O número de celulares no Brasil já ultrapassou a quantidade de habitantes do país, e não é apenas a quantidade de aparelhos que aumentou rapidamente, mas o número de horas por dia dedicadas a eles.

O dado é do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGVcia).

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O Brasil é o segundo país que passa mais tempo do dia no uso de telas, atrás apenas da África do Sul: são cerca de 9 horas e 32 minutos, quatro apenas nas redes sociais, o que representa 58,2% do tempo médio em que um brasileiro está acordado, segundo dados do Digital 2023: Global Overview Report e do aplicativo Sleep Cycle, analisados pela Eletronics Hub.

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Ao passo que mais e mais horas são gastas com o uso de celulares, e que as novas gerações provavelmente utilizarão os aparelhos desde o nascimento até a morte, especialistas chamam atenção para a importância de falarmos sobre um conceito chave na vida moderna: educação digital.

Afinal, esse uso recorrente do dispositivo não é isento de riscos e provoca até mesmo alterações no funcionamento cerebral.

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Os especialistas alertam principalmente para efeitos na cognição, na atenção, na memória, mas também para os impactos na autoestima e no desenvolvimento de quadros de dependência — muito associados aos contextos de exposição e de acompanhar as vidas alheias nas plataformas sociais.

Mulher mexendo nas redes sociais
(Imagem: Pexels)

Estudos realizados na área avaliam o impacto do uso excessivo de celulares no cérebro. Um dos trabalhos mais conhecidos sobre o tema, publicado no periódico Journal of the Association for Consumer Research, concebeu o termo “drenagem cerebral” ao avaliar o impacto da simples presença de um smartphone no mesmo local que o indivíduo na cognição.

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Os pesquisadores queriam testar a hipótese de que o fato de o aparelho estar no local já faz com que as pessoas direcionem recursos cognitivos para ele, como pensando nas tarefas que precisam realizar ou nas notificações que podem estar perdendo. Com isso, menos recursos estariam disponíveis para outras atividades, que teriam o desempenho prejudicado.

O estudo foi dividido em duas partes, em que uma os participantes precisavam se lembrar de palavras e, na outra, resolver problemas matemáticos. Em ambos, os voluntários foram divididos em grupos em que cada um estava com o celular em um local: na mesa, no bolso ou na sala ao lado. Quanto mais longe o telefone estava, melhor foi o resultado da tarefa.

Os resultados dos dois experimentos indicam que mesmo quando as pessoas conseguem manter a atenção sustentada — como ao evitar a tentação de verificar seus telefones — a mera presença desses dispositivos reduz a capacidade cognitiva disponível (…) (Ou seja) mesmo quando você não está pensando conscientemente em seu telefone, o processo de não pensar em seu telefone requer alguns recursos cognitivos.

Trecho do artigo

Outros impactos dos celulares no cérebro

Além da diminuição da capacidade de concentração, a tecnologia também afeta a memória e pode causar preguiça mental. A psiquiatra e pesquisadora em dependências tecnológicas, Julia Khoury, explica que a rapidez e intensidade dos estímulos do celular geram dopamina, hormônio do prazer, que libera impulsos no córtex pré-frontal do cérebro, responsável por controlar nossos impulsos e permitir a concentração a longo prazo.

Por outro lado, o uso excessivo dos dispositivos digitais leva as pessoas a exercitarem cada vez menos a própria memória, pois delegam ao celular o armazenamento das informações. Segundo a neurocientista Yoojin Chae Min, quanto menos se exercita a memória, menor é a capacidade cognitiva de armazenar informações por conta própria.

Um estudo da Universidade de Waterloo, no Canadá, mostrou que o uso de smartphones pode fazer as pessoas buscarem e confiarem em informações fornecidas pelos dispositivos do que por sua própria mente, tornando-as mais preguiçosas mentalmente. Já um estudo da Universidade de Showa, no Japão, comparou a leitura em telas e em papel, e descobriu que a leitura em smartphones resulta em compreensão reduzida, hiperatividade cerebral no córtex pré-frontal e menos suspiros.

Em resumo, apesar de a tecnologia ter vindo para ajudar, seu uso excessivo pode ter um preço na capacidade cognitiva humana, afetando a concentração, a memória e a habilidade de compreender informações.

Com informações do O Globo.

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