Utilizar a internet e ambientes digitais atualmente é se equilibrar entre dois paradoxos. Cada vez mais, os sites e ferramentas demandam nossas informações para entregarem bens e serviços personalizados e eficientes para todos. Em contrapartida, a preocupação com a segurança dessas informações e o desejo de maior privacidade nunca foi tão latente quanto agora. Em resumo: queremos soluções melhores de acordo com nossas preferências e comportamentos, mas não queremos conceder as informações que facilitam isso.

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Trata-se de uma situação complicada, mas muito comum atualmente para as empresas e profissionais de negócios digitais. O futuro tampouco é alentador. A consolidação do 5G no Brasil vai elevar ainda mais a conectividade entre pessoas e dispositivos. Se hoje já utilizamos o smartphone para (quase) tudo, imagina quando nossos eletrodomésticos também tiverem conexão à internet, trafegando informações daquilo que ocorre em nosso dia a dia?

Cadeado em meio a celular, tablet, teclado, mouse e outros acessórios
Crédito: Ruslan Grumble/Shutterstock

Não à toa, um estudo realizado pela Cisco já indica que 86% das pessoas mostram uma inquietação constante com a privacidade dos seus dados e desejam ter mais controle sobre o que é coletado e processado pelas empresas e organizações. Hoje, por exemplo, praticamente três em cada quatro usuários (76%) desconhecem qual o destino e os cuidados de suas informações a partir do momento em que são coletadas na web. São percentuais elevados demais e que indicam um problema que precisa ser resolvido — e logo.

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A questão é como equilibrar essas duas propostas conflitantes em um mundo onde a cultura data driven, ou seja, decisões orientadas a dados, se tornou questão de sobrevivência para companhias de todos os tamanhos e segmentos. Será que é possível preservar a privacidade das pessoas e, ao mesmo tempo, utilizar informações pessoais para entregar melhores produtos e serviços?

De antemão já adianto que este cenário perfeito não existe. Esse é um desafio que os usuários e as empresas precisam encarar: de um lado, vai ser preciso conceder informações se quisermos soluções melhores para os nossos problemas; do outro, as corporações precisam reforçar e melhorar continuamente os processos de coleta, tratamento e armazenamento dos dados. Mas isso não significa que essa relação precisa ser problemática — com a devida preparação, os dois lados podem se beneficiar a longo prazo.

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Novo papel dos dados expôs desafios à privacidade

O que ocorre atualmente nada mais é do que uma evolução já esperada das próprias soluções digitais. Conforme mais dados passaram a trafegar na internet, mais detalhes as empresas passaram a ter de seu público-alvo. A lógica é simples, mas imbatível: quando você sabe o que cada cliente pensa e deseja, fica mais fácil desenvolver bens e serviços que atendam essa demanda — e, claro, aumentar as vendas nesse caminho.

Com uma matéria-prima tão poderosa, era natural que os dados invadissem as estratégias e planejamentos de diferentes departamentos e setores. Hoje, é inviável imaginar qualquer ação que não seja inspirada pela análise cuidadosa dessas informações. É por isso que se tornaram o “novo petróleo”, a moeda de troca em um novo estágio da economia neste século.

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Entretanto, como qualquer item de valor, passou a ser alvo de criminosos, pessoas dispostas a roubar, vazar ou sequestrar informações em troca de vantagens indevidas. As fraudes financeiras, aplicadas nos mais diversos golpes, são apenas um dos vários crimes cometidos pela exposição dos dados na web. Outros riscos são mais perigosos, como vazamento de informações pessoais do banco de dados de grandes empresas nacionais e internacionais. Nas mãos erradas, podem trazer diversos prejuízos para os cidadãos e as corporações.

Montagem com aparelhos e itens relacionados à saúde, envoltos em desenhos tecnológicos
Imagem: Adobe Stock

Privacidade não pode ser sinônimo de esquecimento

  • Nos últimos anos, diversas medidas foram adotadas para reduzir esse problema e criar uma política de boas práticas no uso de dados para formulação de bens e serviços.
  • No Brasil, o Marco Civil da Internet, em 2014, e a Lei Geral de Proteção aos Dados Pessoais (LGPD), em 2020, são os textos que buscam regulamentar as informações trafegadas nas redes públicas e privadas.
  • Lá fora, a GDPR busca fazer o mesmo para a União Europeia.
  • São ferramentas importantes, sem dúvida, mas que representam o aspecto jurídico da situação.
  • É preciso que as próprias empresas e organizações que trabalhem com dados criem suas próprias regras de atuação, prezando pela transparência na comunicação com os usuários e no cuidado com o armazenamento e tratamento de tudo o que for utilizado em suas estratégias.
  • compliance, palavra da moda há alguns anos, nunca foi tão importante quanto agora. A pessoa precisa ter confiança de que o que ela repassar será bem utilizado.

A privacidade, portanto, pode ser respeitada sem que, para isso, se torne uma ferramenta de esquecimento. Em um mundo dominado por conexões, ter soluções personalizadas não é mais uma escolha, mas uma necessidade. O usuário está disposto a fazer concessões de seus dados, principalmente para companhias que mostrarem que terão o devido respeito pelas informações. Assim, ele terá a segurança necessária para conceder o que for necessário, sabendo que seu ambiente pessoal jamais será violado.

Trabalhar com dados exige atenção contínua

Engana-se quem pensa que o trabalho com dados é meramente técnico ou analítico. Os desafios impostos pela utilização de informações pessoais demanda conhecimentos antropológicos e até filosóficos. Ou você acha que pode utilizar dados de terceiros sem pensar nas implicações éticas envolvidas? Essa ignorância que fez explodir os casos de desinformação, outro problema grave do avanço da digitalização.

Por isso mesmo, lidar com dados dentro de empresas e organizações requer uma atenção redobrada e contínua. Não apenas para estar alinhado às principais soluções de cibersegurança para garantir proteção máxima, mas também para saber quais são os receios, preocupações e vontades de cada indivíduo em relação às próprias informações. Afinal, seus hábitos e comportamentos também estão em constante evolução.

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