Betelgeuse é uma das estrelas mais brilhantes do céu noturno e que mais chama a atenção dos cientistas por estar nas últimas fases da sua vida estelar. Recentemente, ela começou a apresentar um comportamento estranho, o que levou alguns astrônomos a se perguntarem: Será que Betelgeuse está prestes a explodir?

A resposta é, ao mesmo tempo, sim e não. Mas vamos entender melhor o porquê disso.

Betelgeuse é a segunda estrela mais brilhante da Constelação de Órion, e está localizada a cerca de 720 anos-luz de distância. Ela apresenta um brilho variável que a coloca, ora entre as 10, ora entre as 12 mais brilhantes do céu noturno. Só que nos últimos dias, ela tem apresentado uma elevação incomum da sua luminosidade, fazendo dela a mais brilhante de Órion e a 7ª mais luminosa da noite.

Além disso, Betelgeuse é uma estrela enorme, classificada como “supergigante vermelha”. Ela é cerca de 17 vezes mais massiva e até 800 vezes maior que o Sol. Isso significa que se colocássemos ela no centro do Sistema Solar, ela engoliria Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, e se estenderia até o cinturão principal de asteroides, entre as órbitas de Marte e Júpiter. 

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[ Gráfico da variação de brilho de Betelgeuse observada nos últimos 300 dias – Fonte: Reprodução Twitter ]

Essa condição, ao mesmo tempo em que faz de Betelgeuse uma das maiores e mais brilhantes estrelas do céu, também acaba a condenando a ter uma vida muito curta. Como toda estrela, Betelgeuse se alimenta essencialmente de hidrogênio, o elemento mais abundante no Universo. Devido à sua enorme gravidade, os átomos de hidrogênio são fundidos em seu núcleo gerando átomos de hélio e produzindo energia. Só que estrelas muito grandes como Betelgeuse, são também muito “gulosas” e consomem rapidamente o hidrogênio do seu núcleo. 

[ Simulação da superfície de uma supergigante vermelha, acelerada para mostrar um ano inteiro em apenas alguns segundos – Créditos: Bernd Freytag, Susanne Höfner e Sofie Liljegren ]

Quando esgota o hidrogênio, a estrela passa a se alimentar de hélio, fundindo seus átomos e gerando carbono e oxigênio. E à medida que o alimento vai acabando, a estrela passa a consumir e gerar elementos ainda mais pesados. Mas quando, nesse processo, ela acaba gerando ferro em seu núcleo, a coisa desanda e a estrela colapsa, gerando uma explosão colossal chamada de supernova. 

Explosões de supernova estão entre os eventos mais energéticos do Universo. Quando ocorrem, uma única estrela chega a brilhar mais intensamente do que toda sua galáxia. E isso não é algo tão raro de se ver. De vez em quando, os astrônomos são surpreendidos por estes eventos luminosos, percebidos em galáxias distantes. Mas uma supernova ocorrida em nossa própria galáxia, não vemos há mais de 400 anos. 

A última vez foi em 1604 e foi observada, por Johannes Kepler, na direção da Constelação do Ofiúco antes mesmo da invenção do telescópio. A chamada Supernova de Kepler brilhou tanto que se tornou a estrela mais luminosa do céu e foi visível durante a luz do dia por 3 semanas. 

A Supernova de Kepler ocorreu a cerca de 20 mil anos-luz de distância da Terra. Agora imagine a intensidade de uma explosão de Betelgeuse, que está a apenas 720 anos-luz daqui. Estima-se que quando ocorrer, a supernova de Betelgeuse será um evento sem precedentes. A estrela deve produzir uma energia equivalente a 10 milhões de sóis e brilhar no nosso céu tanto quanto uma Lua Cheia, sendo facilmente visível durante o dia. 

[ Simulação da Supernova de Betelgeuse – Fonte: Reprodução Youtube ]

E pelo que se conhece de estrelas como Betelgeuse, isso não deve demorar para acontecer, mas não se anime, porque quando falamos da escala de tempo de uma estrela, “já já”, pode significar muitos milhares de anos. 

Sabemos que Betelgeuse já está numa situação crítica. Ela tem apenas 8 milhões de anos e já esgotou todo o hidrogênio do seu núcleo. Comparando com o Sol, que já tem 4,6 bilhões de anos, mas que ainda tá de boa, com reserva de hidrogênio para mais uns 5 ou 6 bilhões de anos, a situação de Betelgeuse é bem preocupante. 

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Não à toa, seu recente aumento inesperado de brilho causou essa expectativa em muita gente. Até porque, Betelgeuse vem apresentando um comportamento estranho já há algum tempo. No final de 2019, ela sofreu uma queda de até 35% no seu brilho e, depois disso, seus ciclos de variabilidade parecem ter se alterado. O ciclo mais curto, que antes durava cerca de 400 dias passou a ser inferior a 200 dias. 

[ Fotografia de longa exposição da Constelação de Órion, mostrando Betelgeuse abaixo e à esquerda – Créditos: Rogelio Bernal Andreo ]

Só que de acordo com os estudos mais recentes, a estrela parece ainda estar no início da fusão do hélio, o que pode lhe garantir, pelo menos, mais 100 ou 200 mil anos de sobrevida. Então, parece que não será dessa vez e provavelmente não seremos nós que vamos vê-la explodir em uma magnífica supernova. Mas a possibilidade de continuar estudando a intrigante e inquieta Betelgeuse, dá aos astrônomos uma excelente oportunidade de seguir aprendendo sobre a vida e a morte das estrelas.

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