UE apresenta proposta para criação do euro digital

Projeto tem sido questionado por bancos. Euro digital precisa ser aprovado pelos 27 membros da UE e pelo Parlamento Europeu
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 28/06/2023 16h53
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Imagem: peterschreiber.media/Shutterstock
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A União Europeia deu nesta quarta-feira (28) um passo importante para lançar uma versão digital do euro. O projeto é marcado por polêmicas e tem sido questionado por políticos e bancos.

A proposta de criar o euro digital nasceu em 2020, quando a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, sugeriu a ideia. Foi então lançada uma consulta pública sobre o tema. Nesta quarta, a Comissão Europeia, braço executivo da UE, publicou um texto que será a base jurídica para o lançamento da moeda digital.

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O euro digital ficaria disponível para os indivíduos que vivem na área comum de uso da moeda e também para os turistas. A novidade prevê uma opção de pagamento adicional para os cidadãos usarem online e offline com suas carteiras digitais, garantindo assim tanto anonimato quanto moedas e notas. Para entrar em vigor, o euro digital precisa ser aprovado pelos 27 membros da União Europeia, bem como pelo Parlamento Europeu.

Pontos positivos e negativos do euro digital

  • Os defensores do euro digital dizem que ele complementará o dinheiro e garantirá que o BCE não deixe uma lacuna posteriormente preenchida por atores privados, geralmente não pertencentes à UE, e outros bancos centrais. “Dado que o euro já é a segunda moeda mais negociada do mundo, não é uma área onde se pode dar ao luxo de ficar atrás da curva. Precisamos avançar com uma moeda digital”, afirmou o vice-presidente da comissão, Valdis Dombrovskis.
  • A proposta da comissão argumenta que os “benefícios de longo prazo do euro digital (…) superam seus custos” e alertaram que “os custos de nenhuma ação podem ser potencialmente muito grandes”. Em março, Christine Lagarde destacou que a moeda digital era importante para a resiliência e para “salvaguardar a autonomia de pagamento europeia”.
  • Já os críticos questionam a necessidade de uma moeda digital e os bancos alertam para os grandes riscos, enquanto o próprio estudo do BCE descobriu que o público estava preocupado com a privacidade dos pagamentos. O BCE e a comissão “ainda não apresentaram um argumento convincente sobre por que precisamos do euro digital e que valor agregado ele proporcionará”, disse o eurodeputado alemão Markus Ferber.
  • Os bancos alertaram para o risco de corridas bancárias, já que os clientes podem manter seus fundos em contas e carteiras digitais em euros, afastando-os dos balanços dos bancos. “Para proteger os bancos do risco de fuga de depósitos e limitar o impacto negativo na capacidade dos bancos de financiar a economia, é importante estabelecer limites apropriados e firmes em participações e transações”, disse a Federação Bancária Europeia nesta quarta-feira.
  • A proposta indica que haverá um limite para quanto dinheiro as pessoas podem manter em euros digitais. Autoridades do BCE sugeriram um limite de 3 mil euros, o equivalente a quase R$ 16 mil.
  • A moeda digital receberá o status de “curso legal”, o que significa que deve ser aceita como pagamento. Mas haveria exceções, inclusive para pequenas empresas que não aceitam nenhuma forma de pagamento digital. O Banco Central Europeu deve dar luz verde formal ao euro digital em outubro e a expectativa é que ele esteja disponível a partir de 2027.

Privacidade preocupa europeus

  • Uma consulta pública mostrou que a principal preocupação da população quando se trata do euro digital é a privacidade. Para acalmar os temores, o BCE enfatizou que não tentaria controlar como as pessoas podem gastar a moeda digital ou usá-la para vigilância, como os críticos afirmam ser o caso da China.
  • “Com o euro digital, a privacidade de dados será a mesma dos meios de pagamento digitais privados existentes. Para pagamentos off-line, a privacidade de dados será ainda maior”, garantiu a comissária europeia dos serviços financeiros, Mairead McGuinness, durante uma conferência de imprensa em Bruxelas.

Real digital

  • Mais de 100 bancos centrais em todo o mundo estão explorando ou se preparando para implementar moedas digitais. É o caso do Brasil.
  • Por aqui, o Real Digital poderá ser testado no fim de 2024 pela população, segundo estimativas do governo. Antes, é preciso construir um panorama sobre o funcionamento da privacidade na rede e ter certeza de que os requisitos da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) estão sendo garantidos.
  • Os testes do piloto da moeda digital vão funcionar com transações de emissão, negociação, transferência e resgate, e vão durar até março de 2024.
  • O Banco Central recebeu diversas propostas de interesse na participação do piloto do Real digital. Foram selecionados para participar dos testes:
  1. Bradesco, Nuclea e Setl
  2. Nubank
  3. Banco Inter, Microsoft e 7Comm
  4. Santander, Santander Asset Management, F1RST e Toro CTVM
  5. Itaú Unibanco
  6. Basa, TecBan, Pinbank, Dinamo, Cresol, Banco Arbi, Ntokens, Clear Sale, Foxbit, CPqD, AWS e Parfin
  7. Caixa, Elo e Microsoft
  8. SFCoop: Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred
  9. XP, Visa
  10. Banco BV
  11. Banco BTG
  12. Banco ABC, Hamsa, LoopiPay e Microsoft
  13. Banco B3, B3 e B3 Digitas
  14. Consórcio ABBC: Banco Brasileiro de Crédito, Banco Ribeirão Preto, Banco Original, Banco ABC Brasil, Banco BS2 e Banco Seguro, ABBC, BBChain, Microsoft e BIP
  15. MBPay, Cerc, Sinqia, Mastercard e Banco Genial
  16. Banco do Brasil

Com informações da TechXplore.

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Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.