Como um salmão e uma ressonância magnética mudaram a ciência

Pesquisadores queriam colocar à prova a análise dos resultados de uma ressonância magnética - e, sem querer, mudaram a ciência
Por Vitoria Lopes Gomez, editado por Bruno Capozzi 11/08/2023 15h33
ressonancia-magnetica.png
(Foto: greenbutterfly/Shutterstock)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Pesquisadores já fizeram todo tipo de loucura em nome da ciência – algumas delas, inclusive, renderam descobertas revolucionárias. No entanto, quando cientistas submeteram um salmão morto a uma ressonância magnética para verificar a forma que os dados do procedimento eram analisados, eles mal imaginaram que o resultado poderia mudar o campo da neurociência.

Leia mais:

Ressonância magnética

  • A ressonância magnética funcional é uma técnica desenvolvida em 1980 para analisar as diferentes partes do cérebro quando colocadas sob diversos tipos de estímulos.
  • Durante o procedimento, o paciente fica deitado em um tubo escuro e apertado (a famosa máquina de ressonância magnética), ouvindo a voz de um médico dando instruções sobre o que fazer.
  • Ao final do exame, a máquina obtém uma espécie de mapa 3D do cérebro, baseado em toda a atividade cerebral durante o processo.
  • Essa técnica não é invasiva e é segura para a maior parte das pessoas, ajudando a mudar a medicina e a forma com que os profissionais da área estudam o cérebro.
Salmão
Quem diria que um salmão mudaria a ciência, hein? Imagem: slowmotiongli/Shutterstock

Qual o problema disso

No entanto, há um problema com o exame: a ressonância magnética é direcionada para resolver ou desvendar um tipo de questionamento, normalmente sobre a saúde do paciente. É isso que norteia as instruções ou perguntas feitas pelo médico.

Porém, o resultado depende de análise estatística e também da quantidade de dados coletados. Ou seja, a chance da interpretação da máquina resultar em um falso positivo ou negativo é grande.

Tal fato preocupou o pesquisador Craig Bennett. Segundo o site IFLScience, foi assim que ele resolveu estudar mais sobre o assunto e entender como a análise de dados pode ser mais bem aplicada nos resultados da ressonância magnética.

Enfim, o salmão morto na máquina de ressonância magnética

  • Para o estudo, Bennett resolveu submeter diversos tipos de objetos (orgânicos, claro) à máquina de ressonância magnética.
  • Ele chegou a usar uma abóbora e galinhas mortas antes de decidir ousar mais: depois de um tempo, ele e a equipe escanearam um grande salmão do Atlântico morto.
  • Essa parte é estranha: durante o procedimento, pediram para o animal realizar uma tarefa que envolvia determinar emoções em uma série de imagens de rostos humanos. Ele falhou – afinal, é um peixe e estava morto.
  • Foi só depois de um tempo que o resultado do exame, que havia sido arquivado, foi reavaliado por Bennet.
  • Em um post de blog, o pesquisador revelou que se surpreendeu com o que viu: apesar de alguns falsos positivos, o resultado alegou que o salmão (morto) realmente processou as imagens.
Mão de médico sobre monitor com imagens de tomografia de cérebro
Atividade cerebral do peixe morto surpreendeu pesquisadores… mas não foi bem isso que aconteceu (Imagem: Getty Images)

O que isso significa?

O salmão não necessariamente analisou as imagens de verdade. O que a experiência quis mostrar é que há falhas nas interpretações dos resultados de uma ressonância magnética funcional.

Apesar de absurdo, a descoberta levou os pesquisadores a publicar um artigo científico sobre o assunto, alertando para a questão e provocando o campo da neurociência. O trabalho os rendeu um Prêmio Ig Nobel em 2021.

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!

Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.