Desde que foi descoberta em 1991, perto do monte Similaun, na fronteira da Áustria com a Itália, uma múmia superconservada conhecida como Ötzi – ou o “Homem de Gelo” – tem sido alvo de intensa investigação. Trata-se, sem dúvida, de um dos cadáveres humanos de geleiras mais estudados do mundo.

A morte violenta e a identidade da múmia intrigaram pesquisadores por décadas e continuam a atrair a atenção do público. O Museu de Arqueologia de Tirol do Sul, em Bolzano, na Itália, que abriga a múmia, recebe anualmente milhares de visitantes curiosos, além de pesquisadores à procura de respostas para os enigmas que a envolvem.

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Uma das múmias humanas de geleiras mais famosas do mundo: Ötzi, o “Homem de Gelo”. Ele era muito diferente do que se propunha até a realização de um estudo genético completo. Crédito: South Tyrol Museum of Archaeology/Eurac/Marco Samadelli-Gregor Staschitz

Um estudo publicado nesta quarta-feira (16) na revista Cell Genomics, baseado na análise do DNA extraído da pélvis de Ötzi, revelou novos detalhes surpreendentes sobre a aparência do famoso “Homem de Gelo”. Contrariando a representação anteriormente aceita, os resultados genéticos indicam que Ötzi tinha pele escura, olhos escuros e provavelmente era calvo. 

Albert Zink, pesquisador-chefe do Instituto de Estudos de Múmias da Eurac Research, um centro de pesquisa italiano não-governamental, diz que essa revelação refuta a ideia de que a pele escura resultava do processo de mumificação. Segundo Zink, a cor escura da pele do “Homem do Gelo” era provavelmente similar à sua verdadeira aparência em vida.

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O “Homem de Gelo” era careca?

O estudo, do qual Zink é um dos autores, também sugeriu que a calvície de Ötzi pode ter ocorrido após sua morte, pois a exposição ao gelo poderia ter contribuído para a perda de cabelo.

“Ötzi pode muito bem ter ficado calvo por razões genéticas, mas a calvície quase completa que ele tem agora é, na minha opinião, mais provável que tenha ocorrido após sua morte. Os pelos geralmente caem durante a permanência dentro e fora do gelo, à medida que a epiderme se decompõe”, disse à CNN o arqueólogo Lars Holger Pilø, codiretor do projeto Segredos do Gelo, na Noruega, que já analisou essa múmia, mas não esteve envolvido no estudo recente.

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A nova abordagem ainda sugere que Ötzi tinha uma dieta rica em carne, evidenciada pela presença de restos de animais como íbex (mamífero típico dos Alpes) e veados em seu estômago.

No âmbito genético, os pesquisadores descobriram que o “Homem de Gelo” não tinha relação com o povo sardo, como se especulava anteriormente, mas sim uma conexão com os primeiros agricultores da Anatólia (atual Turquia). Essa descoberta sugere que ele viveu em uma área isolada, com contato limitado com outras populações e pouco fluxo gênico com caçadores-coletores contemporâneos.

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O mistério em torno do “Homem do Gelo” continua a fascinar, com novas descobertas constantemente reescrevendo sua história. A análise minuciosa de seus restos e pertences trouxe detalhes sobre a vida que ele levava há 5,3 mil anos, revelando sua última refeição, sua habilidade em manipular armas com a mão direita e até mesmo seu vestuário. 

Esses detalhes produzem uma imagem mais completa de sua existência e inspiram investigações adicionais para desvendar todos os segredos que Ötzi ainda guarda.

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