Um artigo submetido este mês ao periódico científico Astrophysical Journal Letters, disponível no servidor de pré-impressão arXiv, descreve uma descoberta que, se confirmada, pode representar uma revolução no estudo dos buracos negros supermassivos.

Segundo os autores do estudo, eles podem ter encontrado a primeira evidência de “sementes” desses monstros cósmicos no universo primitivo, o que ajudaria a explicar como alguns desses misteriosos objetos com massas equivalentes a milhões ou até mesmo bilhões de vezes a do Sol cresceram rápido o suficiente para existir menos de 1 bilhão de anos após o Big Bang.

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Potencialmente, essas “sementes” são buracos negros com cerca de 40 milhões de vezes mais massa que o Sol. Acredita-se que esses “embriões” se formem a partir do colapso direto de nuvens de gás, diferentemente de um buraco negro típico que nasce quando uma estrela massiva chega ao fim de sua vida e colapsa sob sua própria gravidade. 

Modelos teóricos de galáxias para hospedar essas sementes de buracos negros supermassivos são referidas como Galáxias de Buracos Negros Descomunais (OBGs). Elas estariam a 13,8 bilhões de anos-luz daqui, e seriam vistas por observatórios espaciais como pareciam na infância do Universo.

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Dois telescópios da NASA fornecerem dados para a pesquisa

Ao que tudo indica, dois equipamentos da NASA, finalmente, conseguiram obter uma dessas visões. É o que diz o novo estudo, conduzido por uma equipe internacional de cientistas liderada pelo pesquisador do Centro de Astrofísica Harvard e Smithsonian, Akos Bogdán.

Enquanto os cientistas investigavam um quasar em uma galáxia chamada UHZ1 usando o Telescópio Espacial James Webb (JWST) e o Observatório de Raios-X Chandra, eles perceberam um objeto com massa característica de buracos negros. Segundo Bogdán, os dados combinados do JWST e do Chandra eram consistentes com o que seria esperado de um OBG. 

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As emissões de raios-X captadas pelo Chandra indicaram um dessas anomalias cósmicas “crescendo” associado ao quasar, o que foi particularmente convincente para identificar a galáxia circundante como um OBG.

Os pesquisadores também compararam suas observações com simulações do crescimento rápido de sementes de buracos negros supermassivos, descobrindo que havia uma boa correspondência.

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“Como primeiro candidato a OBG, a galáxia UHZ1 fornece evidências convincentes para a formação de sementes iniciais supermassivas a partir do colapso direto no Universo primitivo”, diz o artigo.

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Estudo sobre “sementes” de buracos negros supermassivos tem limitações

Os próprios autores apontam as limitações em sua pesquisa e pedem cautela ao extrapolar que o crescimento do buraco negro dentro da galáxia UHZ1 atingiu o status de supermassivo. Eles também enfatizam que a possibilidade de tal crescimento dependeria muito do ambiente em que uma semente potencial se encontra, com quantidades abundantes de gás e poeira necessárias para suportar seu crescimento.

Ainda há muito mais para se investigar antes que uma população de sementes de buracos negros possa ser confirmada e uma conexão com poços gravitacionais supermassivos no universo infantil possa ser estabelecida, mas essa descoberta recente pode ser um passo na direção certa.

“À medida que o JWST detecta mais buracos negros [distantes e precoces] nos próximos ciclos, planejamos analisar essas fontes, investigar possíveis contrapartes de raios-X com o Chandra e desenvolver uma compreensão mais profunda dos OBGs e da física de semeadura pesada”, disse Bogdán ao site Space.com.

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