Células “antepassadas” dos neurônios são encontradas em criatura de 800 milhões de anos

Pesquisadores descobriram que células de placozoários apresentam semelhanças em relação ao nossos neurônios
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 19/09/2023 15h50, atualizada em 20/09/2023 20h54
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Pesquisadores da Espanha e da Alemanha descobriram características de células secretoras especializadas em animais simples chamados placozoários. Eles acreditam que essas estruturas originaram os neurônios presentes nos cérebros humanos. A pesquisa foi publicada na revista Cell.

Leia mais

Placozoários

  • Aproximadamente do tamanho de um grão de areia (de 2 a 3 mm de diâmetro), os placozoários são animais invertebrados primitivos.
  • Eles não têm órgãos e possuem milhares de células organizadas em uma simples placa de camada dupla.
  • Os placozoários caçam micróbios e estão presentes nas águas rasas quentes dos mares há 800 milhões de anos.
  • As informações são da ScienceAlert.

Placozoário (Imagem: Najle et al., Cell, 2023)

Células semelhantes aos nossos neurônios

Uma análise genética e exames microscópicos revelaram que as células coordenam o comportamento do minúsculo animal, liberando sinais peptídicos. Os pesquisadores identificaram 14 tipos diferentes de células peptídicas nos placozoários.

Comparando os tecidos de quatro espécies conhecidas, bem como com outros animais primitivos, a equipe descobriu que essas células têm até alguns dos mesmos genes que nossos neurônios.

Ficamos surpresos com os paralelos. As células peptidérgicas do placozoário têm muitas semelhanças com as células neuronais primitivas, mesmo que ainda não estejam lá. É como olhar para um trampolim evolutivo.

Sebastián Najle, biólogo celular do Centro de Regulação Genômica

Mas faltam outros componentes especializados que nossos neurônios têm para receber sinais peptídicos ou gerar sinais elétricos. Em vez disso, os placozoários usam proteínas receptoras (GPCR) para receber as mensagens químicas, que são comuns em muitos tipos de células animais e não específicas dos neurônios.

Os genes das células liberadoras de peptídeos foram altamente conservados em todos os placozoários, mas ausentes em outros animais primitivos, como esponjas, por exemplo. Isso sugere que as células secretoras de peptídeos podem ter evoluído antes de outras células semelhantes a neurônios.

Os neurônios evoluíram uma vez e depois divergiram, ou mais de uma vez, em paralelo? São um mosaico, onde cada peça tem uma origem diferente? São questões em aberto que ainda precisam ser abordadas.

Sebastián Najle, biólogo celular do Centro de Regulação Genômica

O primeiro neurônio moderno conhecido surgiu há cerca de 650 milhões de anos no ancestral comum das águas-vivas e do grupo bilateriano de animais que nos levam.

As células são as unidades fundamentais da vida, então entender como elas surgem ou mudam ao longo do tempo é fundamental para explicar a história evolutiva da vida. Placozoários, ctenóforos, esponjas e outros animais modelo não tradicionais guardam segredos que estamos apenas começando a desvendar.

Arnau Sebé-Pedros, biólogo evolucionista

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.