Microplásticos são encontrados em caverna fechada para humanos há 30 anos

A maior concentração de microplasticos no local estava nos sedimentos da caverna, provavelmente concentrados ali devido enchentes
Por Mateus Dias, editado por Lucas Soares 29/09/2023 19h25
Estudantes recolhendo amostras na caverna Cliff para analisar a quantidade de microplásticos no local
Estudantes recolhendo amostras na caverna Cliff para analisar a quantidade de microplásticos no local (Credito: Elizabeth Hasenmueller)
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Os microplásticos já foram encontrados nos oceanos, em rios, nos alimentos e até mesmo no coração humano. Apesar do material ser um problema global, pensava-se que onde não podemos ir, ele não seria encontrado. No entanto, um grupo de pesquisadores descobriu recentemente microplástico no sistema de cavernas Cliff, no Missouri, Estados Unidos, local fechado para visitação há cerca de 30 anos.

Os microplásticos são por definição aqueles que possuem menos de 5 milímetros de comprimento, mas alguns são tão pequenos que são quase impossíveis de serem vistos a olho nu, podendo representar grandes problemas ao entrar em contato com as fontes de abastecimento de água.

Durante muito tempo, as pesquisas sobre microplásticos na água se concentraram na superfície, enquanto os reservatórios no subsolo foram ignorados. Isso porque acreditava-se que pelos humanos não terem contato facilmente com esses locais, eles estariam livres do problema.

No entanto, a professora da Universidade de St. Louis, Elizabeth Hasenmueller, junto com seus alunos, decidiu investigar o sistema de cavernas Cliff. Amostras da água e dos sedimentos do local foram coletados e analisados para quantizar a quantidade de microplásticos.

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Microplásticos na água e nos sedimento

No estudo publicado recentemente na revista Water Research e na Science of The Total Environment, os pesquisadores apontaram que a maior concentração de microplásticos estava na entrada da caverna e nos sedimentos, muito provavelmente devido a inundações ou até mesmo por causa do vento. Quando as enchentes acontecem, o excesso de água provavelmente carrega o material para dentro da caverna, quando ela recua, o plástico fica, se concentrando principalmente nos sedimentos.

Não tínhamos certeza do que esperar do conjunto de dados, mas descobrimos que a entrada principal da caverna é onde há muitos detritos microplásticos, seja da deposição de inundações ou possivelmente de partículas microplásticas suspensas no ar sendo depositadas perto da abertura da caverna.

Elizabeth Hasenmueller, em comunicado

A pesquisa contabilizou a quantidade de microplástico em duas situações: no período de fluxo normal e quando acontecem encheste na caverna

  • Durante o fluxo base, a concentração de microplásticos na água da caverna foi de 9,2 partículas por litro;
  • Quando aconteceu uma enchente, esse número subiu para 81,3 partículas por litro;
  • A análise dos sedimentos da caverna mostrou que a concentração de partículas no material é muito superior à da água, cerca de 850 pedaços por quilo de sedimento.

A descoberta deixou os pesquisadores preocupados. A caverna Cliff é um terreno cárstico e mostrou-se bastante suscetível à poluição por microplástico, muito provavelmente “porque a presença de grandes aberturas de dissolução permite o transporte rápido de água através dos sistemas”. O problema é que cerca de 9% da população mundial é abastecida por águas vindas de aquíferos cársticos e a presença do material  pode trazer consequências à saúde humana.

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Redator(a)

Mateus Dias é estudante de jornalismo pela Universidade de São Paulo. Atualmente é redator de Ciência e Espaço do Olhar Digital

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.