Maior tremor registrado em Marte não foi causado por meteorito

O maior tremor sísmico já registrado em Marte não foi causado por um impacto de meteorito. Mas o que poderia ser?
Ana Luiza Figueiredo17/10/2023 15h29, atualizada em 17/10/2023 15h53
marte
Imagem: Elena11 / Shutterstock.com
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Em sua missão de quatro anos em Marte, a sonda da NASA, InSight, registrou uma ampla gama de terremotos sacudindo o Planeta Vermelho. Tremores grandes e pequenos lentamente revelaram como é o interior de Marte e a atividade em seu núcleo. A sonda também mediu impactos de meteoritos, com rochas cósmicas atingindo Marte e fazendo-o soar como um sino.

O maior martemoto (abalo sísmico em Marte) já registrado também acreditava-se ter sido causado por uma colisão cósmica – mas acabou sendo algo diferente. O maior tremor em Marte foi registrado em 4 de maio de 2022, quando a sonda da NASA já estava com problemas para manter tudo funcionando. Seus painéis solares estavam ficando cobertos de poeira, e o inverno marciano se aproximava.

marte
Sonda InSight, da NASA, projetada para detectar abalos sísmicos em Marte pode diferenciar ruídos próprios do solo marciano daqueles provocados por meteoritos. Imagem: NASA

Leia mais:

A detecção desse tremor foi, na verdade, fundamental para convencer a NASA a extrair o máximo de informações da sonda antes do fim de sua missão. E havia uma grande pergunta a ser respondida.

Qual foi a causa desse tremor?

O aspecto mais empolgante desta pesquisa foi reunir pesquisadores de todo o mundo para procurar a cratera, incluindo aqueles de nações que não costumam colaborar rotineiramente em pesquisas espaciais.

Dr. Benjamin Fernando ao IFLScience
  • Impactos foram responsáveis por dois dos maiores tremores medidos em Marte, então o candidato óbvio para esse tremor era outro impacto.
  • O martemoto, apelidado de S1222a, teve uma magnitude de 4,7 e causou vibrações em todo o planeta por seis horas.
  • Se fosse um asteroide atingindo Marte, teria deixado para trás uma cratera.
  • O autor principal do artigo publicado na revista Geophysical Research Letters, Dr. Benjamin Fernando, da Universidade de Oxford, entrou em contato com a Agência Espacial Europeia, a Agência Espacial Nacional Chinesa, a Organização de Pesquisa Espacial da Índia e a Agência Espacial dos Emirados Árabes Unidos para procurar a cratera.
  • Todas elas têm missões em todo o mundo e, juntas, tornariam a tarefa de procurar a cratera mais fácil.
  • A colaboração foi histórica, mas, após vasculhar toda a área de 144,8 milhões de quilômetros quadrados de Marte, eles não encontraram uma nova cratera.
  • Isso não é um resultado decepcionante. Se a causa do tremor não veio do céu, isso significa que veio do interior do planeta.
  • A explicação mais provável é que as forças tectônicas dentro de Marte tiveram uma liberação súbita.
  • Isso significa que Marte é mais geologicamente ativo do que se esperava com base nas medições anteriores da sonda InSight.

Ainda acreditamos que Marte não tem tectônica de placas ativa hoje, então esse evento provavelmente foi causado pela liberação de estresse dentro da crosta de Marte. Esses estresses são o resultado de bilhões de anos de evolução, incluindo o resfriamento e a contração de diferentes partes do planeta a taxas diferentes. Ainda não entendemos completamente por que algumas partes do planeta parecem ter estresses mais altos do que outras, mas resultados como esses nos ajudam a investigar mais. Um dia, essas informações podem nos ajudar a entender onde seria seguro para os humanos viverem em Marte e onde devemos evitar!

Dr. Benjamin Fernando ao IFLScience
marte
O sismógrafo da NASA registra o maior terremoto já registrado em outro planeta. Imagem: NASA/JPL-Caltech

“Este experimento mostra o quão importante é manter um conjunto diversificado de instrumentos em Marte, e estamos muito felizes por termos desempenhado nosso papel na abordagem multinstrumental e internacional deste estudo”, explicou a Dra. Daniela Tirsch, Coordenadora de Ciências da Câmera de Alta Resolução a Bordo da Sonda Espacial Mars Express da ESA. Esses sentimentos são ecoados pelos outros colaboradores internacionais.

“Estamos dispostos a colaborar com cientistas de todo o mundo para compartilhar e aplicar esses dados científicos para obter mais conhecimento sobre Marte, e temos orgulho de ter fornecido dados dos imageadores coloridos da missão Tianwen-1 para contribuir com esse esforço”, acrescentou o Dr. Jianjun Liu, do Observatório Astronômico Nacional, Academia Chinesa de Ciências.

Esta tem sido uma ótima oportunidade para colaborar com a equipe InSight, bem como com indivíduos de outras grandes missões dedicadas ao estudo de Marte. Realmente, esta é a era de ouro da exploração de Marte!

Dr. Dimitra Atri, Líder de Grupo para Marte na Universidade de Nova York em Abu Dhabi e contribuinte de dados da espaçonave Hope dos Emirados Árabes Unidos

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.