Imagem do Sol próxima a um close de estruturas semelhantes a cobras no campo magnético solar (Imagem: NASA/Queen's University Belfast)
Cientistas se debruçam há tempos nas peculiaridades do Sol para tentar decifrar um mistério que os intriga há 65 anos: a atmosfera (ou coroa) é surpreendentemente mais quente do que a superfície da estrela, apesar de estar mais longe da fonte óbvia de calor (o núcleo).
Agora, o enigma pode estar mais próximo de ser desvendado. Usando o mais poderoso telescópio solar da Terra, o Daniel K. Inouye Solar Telescope (DKIST), localizado no Havaí (EUA), uma equipe internacional de astrônomos conseguiu observar o campo magnético solar com detalhes sem precedentes. Os resultados foram publicados no periódico científico The Astrophysical Journal Letters.
Vamos entender:
Os cientistas encontraram padrões complexos de energia semelhantes a cobras no campo magnético na atmosfera mais baixa de nossa estrela, a cromosfera, que pode estar levando energia às camadas externas da atmosfera.
Graças a essa pesquisa, podemos estar um passo mais perto de compreendermos o Sol, nossa estrela que dá vida.
Robertus Erdelyi, professor da Universidade de Sheffield (Reino Unido), coinvestigador do estudo, em comunicado.
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Enquanto a superfície do Sol, chamada de fotosfera, é relativamente “amena”, atingindo em torno de 6.000ºC, a nuvem difusa de átomos carregados que compõe a coroa pode ultrapassar 1 milhão de graus Celsius.
Este aquecimento coronal desafia a ciência, contrariando todos modelos estelares conhecidos, já que a fonte de calor estelar é a fusão nuclear em seu núcleo. Sendo assim, as temperaturas devem aumentar à medida que se aproxima do coração da estrela.
Conforme destaca o Space.com, as camadas do Sol também parecem obedecer essa regra, mas só até o momento em que chega na coroa, o que significa que há algum tipo de mecanismo desconhecido que esquenta as camadas exteriores. E a peça que falta para concluir esse quebra-cabeça pode estar nas regiões mais tranquilas do astro.
Tentativas anteriores de resolver a questão focaram nas regiões solares ativas, particularmente as manchas solares, áreas com altos índices magnéticos que passam energia entre camadas externas do Sol.
Para o novo estudo, no entanto, os pesquisadores dedicaram atenção às regiões calmas. Tais áreas silenciosas da fotosfera são cobertas por células convectivas chamadas grânulos, que são hospedeiros de campos magnéticos mais fracos, mas mais dinâmicos, em relação aos encontrados ao redor das manchas.
As análises anteriores indicaram que esses campos magnéticos se organizam em pequenos loops, porém, a equipe achou, pela primeira vez, um padrão subjacente mais complicado, com a orientação dos campos exibindo variação serpentina.
Segundo o coautor Michail Mathioudakis, da Universidade Queen de Belfast (Irlanda do Norte), quanto mais complexas as variações em pequena escala na direção do campo magnético, mais plausível é que a energia esteja sendo liberada por meio de um processo chamado reconexão magnética – quando dois campos magnéticos apontando em direções opostas interagem e liberam energia que contribui para o aquecimento atmosférico.
“Usamos o telescópio óptico solar mais poderoso do mundo para revelar as orientações de campo magnético mais complexas já vistas nas menores escalas. Isso nos aproxima da compreensão de um dos maiores enigmas da pesquisa solar”, disse ele.
Esta post foi modificado pela última vez em 23 de outubro de 2023 20:58