A sonda InSight, da NASA, permaneceu durante cinco anos explorando Marte. Em 2018, o equipamento voltou à Terra com muitos dados e informações valiosas para os cientistas revisarem.
Durante este período, o sismômetro da sonda usou terremotos como sonogramas para estudar o interior do Planeta Vermelho. E dados recém-analisados contrariam teoria de dois anos atrás sobre o formato do núcleo de nosso vizinho.
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Afinal, como é o núcleo de Marte?
- A teoria anterior indicava que o núcleo do Planeta Vermelho teria núcleo maior que o se imaginava, porém, bem menos denso;
- Contudo, dados produzidos pelo impacto de um meteorito mostram algo diferente. A onda sísmica provocada se propagou através do interior do planeta até o núcleo, o que não bate com a teoria anterior;
- Originalmente, pensava-se que Marte tinha manto solidificado e núcleo líquido com raio de 1.830 km, pois ondas sísmicas mais fracas refletiriam a essa distância;
- Porém, os pesquisadores não conseguiram enquadrar esse tamanho com essa densidade.
A ideia geral sobre planetas rochosos é que eles são diferenciados, de modo que elementos mais pesados afundam. Para explicar a densidade do núcleo, havia uma necessidade de ter muitos elementos mais leves, sendo que, em Marte, não há elementos leves o bastante para formar tamanho núcleo.
Além disso, o movimento feito por Phobos, a lua de Marte, pareceu indicar que tal parte do manto era fundida.
Quando as teorias existentes não batem uma com a outra, os pesquisadores precisam buscar mais dados. Nesse caso, o terremoto causado pelo meteorito analisado trouxe as informações adicionais necessárias.
O evento desencadeou ondas que se propagaram pelas camadas mais profundas do planeta. Se o manto era sólido e tivesse a mesma composição em toda sua extensão, o movimento dessas ondas não poderia ser explicado.
Segundo o IFLScience, os dois estudos (publicados na Nature aqui e aqui) que atestam a nova descoberta indicam que o manto tem uma camada inferior que não é sólida, com grossura de cerca de 150 km. Abaixo dela, há o núcleo marciano, descritível como uma bola derretida composta, principalmente, de ferro, com raio de 1.680 km.
Não conseguimos ajustar os tempos de viagem que vimos vindo do outro lado do planeta, então isso nos sugeriu, ok, talvez haja algo mais acontecendo. A melhor maneira que encontramos para ajustar isso foi ter camada de baixa densidade na parte superior do núcleo. Este é o grande avanço: com esta camada de baixa densidade, temos, agora, um núcleo mais denso, que é mais fácil de explicar.
Professor Paolo Sossi, coautor de um dos estudos da ETH Zürich, em entrevista ao IFLScience
Ambas as equipes de pesquisa destacaram como a possibilidade de um núcleo menor e um manto parcialmente sólido estava sendo investigado muito antes que os dados que o apoiaram chegassem.
Ao contrário do que pensávamos anteriormente, o manto marciano não é homogêneo. Tem essas unidades diferentes. E o núcleo abaixo dele, que é feito de metal e elementos leves, é menor, cerca de 30% menor em volume do que as estimativas anteriores.
Dr. Henri Samuel, autor líder do outro estudo, do Institut de Physique du Globe de Paris e Université Paris Cité, em entrevista ao IFLScience
Nossa compreensão de Marte é agora melhor, mas ainda está longe de ser perfeita, já que mesmo estes dois estudos não concordam totalmente sobre o que se passa nas profundezas do manto.
No trabalho do Dr. Samuel, existem duas camadas no manto profundo: uma parcialmente fundida e outra totalmente fundida. A outra equipe de estudo acredita que toda a camada está derretida.
Análises futuras do que foi registado pela InSight e melhores modelos poderão talvez distinguir entre estes dois cenários, mas são necessários ainda mais dados.