A sonda InSight, da NASA, permaneceu durante cinco anos explorando Marte. Em 2018, o equipamento voltou à Terra com muitos dados e informações valiosas para os cientistas revisarem.

Durante este período, o sismômetro da sonda usou terremotos como sonogramas para estudar o interior do Planeta Vermelho. E dados recém-analisados contrariam teoria de dois anos atrás sobre o formato do núcleo de nosso vizinho.

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Afinal, como é o núcleo de Marte?

  • A teoria anterior indicava que o núcleo do Planeta Vermelho teria núcleo maior que o se imaginava, porém, bem menos denso;
  • Contudo, dados produzidos pelo impacto de um meteorito mostram algo diferente. A onda sísmica provocada se propagou através do interior do planeta até o núcleo, o que não bate com a teoria anterior;
  • Originalmente, pensava-se que Marte tinha manto solidificado e núcleo líquido com raio de 1.830 km, pois ondas sísmicas mais fracas refletiriam a essa distância;
  • Porém, os pesquisadores não conseguiram enquadrar esse tamanho com essa densidade.

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Imagem: Dr Henri Samuel/IPGP-CNES

A ideia geral sobre planetas rochosos é que eles são diferenciados, de modo que elementos mais pesados afundam. Para explicar a densidade do núcleo, havia uma necessidade de ter muitos elementos mais leves, sendo que, em Marte, não há elementos leves o bastante para formar tamanho núcleo.

Além disso, o movimento feito por Phobos, a lua de Marte, pareceu indicar que tal parte do manto era fundida.

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Quando as teorias existentes não batem uma com a outra, os pesquisadores precisam buscar mais dados. Nesse caso, o terremoto causado pelo meteorito analisado trouxe as informações adicionais necessárias.

O evento desencadeou ondas que se propagaram pelas camadas mais profundas do planeta. Se o manto era sólido e tivesse a mesma composição em toda sua extensão, o movimento dessas ondas não poderia ser explicado.

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Segundo o IFLScience, os dois estudos (publicados na Nature aqui e aqui) que atestam a nova descoberta indicam que o manto tem uma camada inferior que não é sólida, com grossura de cerca de 150 km. Abaixo dela, há o núcleo marciano, descritível como uma bola derretida composta, principalmente, de ferro, com raio de 1.680 km.

Visão artística dos terremotos vistos pela InSight em regiões mais próximas e no impacto de um meteoro (Imagem: Dr Henri Samuel/IPGP-CNES)

Não conseguimos ajustar os tempos de viagem que vimos vindo do outro lado do planeta, então isso nos sugeriu, ok, talvez haja algo mais acontecendo. A melhor maneira que encontramos para ajustar isso foi ter camada de baixa densidade na parte superior do núcleo. Este é o grande avanço: com esta camada de baixa densidade, temos, agora, um núcleo mais denso, que é mais fácil de explicar.

Professor Paolo Sossi, coautor de um dos estudos da ETH Zürich, em entrevista ao IFLScience

Ambas as equipes de pesquisa destacaram como a possibilidade de um núcleo menor e um manto parcialmente sólido estava sendo investigado muito antes que os dados que o apoiaram chegassem.

Ao contrário do que pensávamos anteriormente, o manto marciano não é homogêneo. Tem essas unidades diferentes. E o núcleo abaixo dele, que é feito de metal e elementos leves, é menor, cerca de 30% menor em volume do que as estimativas anteriores.

Dr. Henri Samuel, autor líder do outro estudo, do Institut de Physique du Globe de Paris e Université Paris Cité, em entrevista ao IFLScience

Nossa compreensão de Marte é agora melhor, mas ainda está longe de ser perfeita, já que mesmo estes dois estudos não concordam totalmente sobre o que se passa nas profundezas do manto.

No trabalho do Dr. Samuel, existem duas camadas no manto profundo: uma parcialmente fundida e outra totalmente fundida. A outra equipe de estudo acredita que toda a camada está derretida.

Análises futuras do que foi registado pela InSight e melhores modelos poderão talvez distinguir entre estes dois cenários, mas são necessários ainda mais dados.