Um estudo da Universidade da Califórnia observou recentemente que uma população remota de chimpanzés da Uganda, na África, pode compartilhar com os humanos não apenas semelhanças físicas externas, mas o marcador para o fim da fertilidade. Isso significa, segundo dados da pesquisa, que a espécie também pode enfrentar a temida menopausa.
O que você precisa saber:
- Segundo o grupo de pesquisa, as evidências vieram após eles notarem alterações hormonais semelhantes às dos humanos nos primatas;
- Os dados acabaram mostrando também que, além de passar pela menopausa, eles vivem por muito tempo após o período;
- Os marcadores foram notados após a análise de 21 anos de dados demográficos e comportamentais da comunidade de chimpanzés selvagens Ngogo, do Parque Nacional Kibale, no sudoeste de Uganda.
Leia mais!
- Antigas ferramentas de pedra brasileiras podem ter sido feitas por macacos
- Cumprimentos como “oi” e “tchau” são comuns entre chimpanzés, diz estudo
- Existe diferença entre o cérebro humano e o dos macacos?
De acordo com a pesquisa, publicada na Science, no caso dos chimpanzés Ngogo, a fertilidade começou a diminuir por volta dos 30 anos, não sendo observados nascimentos após os 50 (nos humanos, a menopausa tende a iniciar aos 50). Alguns deles sobreviveram de forma saudável ainda por 10 ou 15 anos após o fim do período de reprodução, estreitando ainda mais as semelhanças com o ser humano.
- Uma comparação de cinco hormônios medidos em 560 amostras de urina de 66 mulheres com idades entre 14 e 67 anos mostrou que os chimpanzés na menopausa passaram por alterações semelhantes;
- Os níveis urinários do hormônio folículo-estimulante e do hormônio luteinizante aumentaram, enquanto os estrogênios e progestágenos caíram, em ambas espécies;
- O estudo acaba refutando outras pesquisas que afirmaram que os chimpanzés podem, sim, se reproduzir até o fim de sua vida — os sinais de menopausa foram observados até 10 anos antes da morte de alguns animais.

Chimpanzés, os parentes vivos mais próximos dos humanos
Pesquisas já confirmaram que os chimpanzés e os bonobos (outra espécie de chimpanzé) são os parentes vivos mais próximos dos humanos. No entanto, a raridade da menopausa entre os animais há muito intriga investigadores, tornando os novos resultados uma descoberta e tanto.
Estudos anteriores com orcas, por exemplo, sugerem diversas teorias:
- Uma aponta que a menopausa pode ter evoluído nesses animais devido ao conflito reprodutivo, supondo que as fêmeas mais velhas param de se reproduzir porque as suas crias não conseguirão competir com os descendentes, nascidos das suas filhas adultas;
- A outra implica na evolução da menopausa à hipótese da avó — as fêmeas mais velhas vivem além dos anos reprodutivos para aumentar as chances de suas filhas se reproduzirem e de seus netos sobreviverem.
Novos dados de populações menos conhecidas podem derrubar suposições sobre a história de vida até mesmo das espécies mais familiares. Se os chimpanzés evoluíram para passar pela menopausa, as teorias para explicar isso podem precisar se concentrar nas semelhanças entre as sociedades dos macacos e das baleias.
Michael Cant, biólogo evolucionista da Universidade de Exeter, não envolvido no estudo.
No entanto, para o antropólogo evolucionista da Universidade da Califórnia e líder da pesquisa, Brian Wood, isso parece pouco provável no caso dos chimpanzés.
As fêmeas idosas vivem geralmente separadas das filhas, uma vez que as filhas abandonam os seus grupos natais na idade adulta.
Em suma, o estudo abre uma nova página sobre a evolução da menopausa em animais. No caso dos chimpanzés, mostra ainda que pesquisas anteriores podem ter subestimado a expectativa de vida da espécie em um habitat natural e sem caça.