O que torna o cérebro humano diferente do de outros animais, como os macacos? Você pode nunca ter parado para se questionar sobre o tema, mas um grupo de pesquisadores de Yale, em Connecticut, EUA, refletiu cientificamente sobre o assunto e desenvolveu um estudo que mostrou resultados surpreendentes. 

A análise, que foi publicada na revista Science e divulgada pelo Medical Xpress, observou os tipos de células no córtex pré-frontal de quatro espécies de primatas – por serem os animais mais semelhantes estruturalmente com os humanos. Usando uma técnica de sequenciamento de RNA de célula única, eles traçaram o perfil dos níveis de expressão de genes em centenas de milhares de células coletadas do córtex pré-frontal dorsolateral (dlPFC) de humanos adultos, chimpanzés, macacos e saguis. 

Imagem: shutterstock/frank60

“Hoje, vemos o córtex pré-frontal dorsolateral como o componente central da identidade humana, mas ainda não sabemos o que o torna único em humanos e nos distingue de outras espécies de primatas”, disse Nenad Sestan, Professor de Neurociência em Yale e o principal autor sênior do artigo. “Agora temos mais pistas.” 

De acordo com os resultados, os primatas têm ao menos 109 células cerebrais compartilhadas com humanos, mas cinco não são comuns a todas as espécies. Entre elas está um tipo de microglia (célula do sistema nervoso central que, entre outros papéis, faz a vigilância do tecido cerebral e da medula). Ela foi detectada apenas em humanos e, um segundo tipo compartilhado, também foi constatado em humanos e chimpanzés. 

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A partir disso, os neurocientistas descobriram que o tipo de microglia encontrado em humanos existe durante todo o desenvolvimento, incluindo na idade adulta, mas que as células agem apenas na manutenção do cérebro, e não em um papel de combater doenças.

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Ao analisar ainda mais a célula em humanos, foi descoberta também a presença do gene FOXP2 – a diferença em relação ao cérebro dos macacos (primatas) -, o que despertou grande interesse científico, já que as variantes do FOXP2 têm sido associadas à dispraxia verbal, uma condição na qual os pacientes têm dificuldade em produzir linguagem ou fala. Outros estudos também mostraram que o FOXP2 está ligado a outras doenças neuropsiquiátricas, como autismo, esquizofrenia e epilepsia. 

“FOXP2 intrigou muitos cientistas por décadas, mas ainda não tínhamos ideia do que o tornava único em humanos versus outras espécies de primatas”, disse Shaojie Ma, associado de pós-doutorado no laboratório de Sestan e coautor do artigo. 

“Estamos extremamente empolgados com as descobertas do FOXP2 porque abrem novas direções no estudo da linguagem e das doenças.” 

Em resumo, a equipe acrescentou que, a grosso modo, o que nos torna humanos é também o que pode nos tornar suscetíveis a doenças neuropsiquiátricas – patologias que ocorrem no organismo a nível molecular. Dentre as doenças neuropsiquiátricas estão, por exemplo, a epilepsia e a doença de Alzheimer. Depressão e ansiedade também fazem parte do grupo, mas o estudo não explicou ou não considerou casos do tipo em animais.

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