Estudo identifica moléculas para diagnóstico específico de zika

A pesquisa do Butantã em parceria com universidades de SP identificou fragmentos que podem ser usados para testes no diagnóstico da zika
Por Estella Abreu, editado por Bruno Ignacio de Lima 02/11/2023 03h20
Mosquito Aedes aegypti
(Imagem: Pexels)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Diagnosticar o vírus da zika continua sendo um dos maiores desafios para a ciência, visto que os atuais testes do mercado ainda apresentam risco de reação cruzada com o vírus da dengue, dificultando a diferenciação das infecções.

Um estudo realizado pelos Institutos Butantan e Adolfo Lutz, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Paulista (UNESP), identificou dois peptídeos (fragmentos) da proteína NS1 que podem ser usados para desenvolver novos testes mais precisos para o diagnóstico da zika.

Leia mais:

Gerando anticorpos

Para realizar o estudo, o primeiro passo foi gerar anticorpos a partir da imunização de modelos animais com a proteína NS1 de zika, produzida no Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

“Após obtermos anticorpos monoclonais e policlonais específicos, fizemos testes para descobrir que partes da proteína NS1 reconheciam que eram de zika e que não cruzavam com dengue”, explicou Roxane Piazza, pesquisadora do Laboratório de Bacteriologia.

Nas amostras de soro de pacientes, cientistas encontraram dois peptídeos que precisamente detectam anticorpos anti-zika, permitindo o desenvolvimento de testes para identificar anticorpos IgG e IgM e determinar se a pessoa foi ou está infectada pelo vírus.

Caminho oposto

Segundo Roxane, outra possibilidade é fazer o caminho oposto: usar os anticorpos específicos de zika para detectar a presença do antígeno (proteína NS1) no sangue dos pacientes. “A NS1 é a proteína mais secretada pelo vírus durante a infecção e, portanto, é o principal alvo de diagnóstico”, aponta.

Imagem: nechaevkon/Shutterstock

Nova epidemia de Zika

Os cientistas alertam que uma nova epidemia de zika é questão de tempo, destacando a necessidade de testes mais precisos para monitorar a doença, além de prevenir a microcefalia em gestantes.

Nosso objetivo é ter técnicas e ferramentas para o diagnóstico individual de casos esporádicos e/ou uma possível epidemia. Assim, estaremos muito mais preparados do que estávamos em 2015

pesquisador Carlos Prudêncio, colaborador da pesquisa.

Surto no Brasil

Entre 2015 e 2016, o Brasil enfrentou um grande surto de zika, resultando em:

  • Um aumento expressivo no número de recém-nascidos com microcefalia;
  • Grave complicação em gestantes infectadas pelo vírus.

Ao todo, o Ministério da Saúde registrou quase 2.000 casos confirmados de síndrome congênita associada à infecção por zika (SCZ), comparado a uma média anterior de apenas 9 casos por ano.

Estudos recentes, incluindo um publicado na revista The New England Journal of Medicine, indicam que a taxa de mortalidade em crianças com SCZ até 3 anos é 11,3 vezes maior do que naquelas sem a condição.

Entre 2015 e 2018, mais de 80% das mortes em crianças com SCZ ocorreram antes de completarem um ano.

(Imagem: Comstock/Freeimagens)

Aumento de casos em 2022

Em 2022, houve um aumento de 42% nos casos de zika no Brasil, segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. O país registrou 9 mil casos prováveis da doença, incluindo 591 em gestantes.

Os estados com maior número de casos em gestantes:

Rio Grande do Norte 210
Bahia 53
Paraíba53
Alagoas48
 Pernambuco43
Fonte: Ministério da Saúde

Como o vírus é transmitido e quais os sintomas?

O vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, da mesma forma que outras doenças, como a dengue e a chikungunya.

Os sintomas costumam surgir de dois a sete dias após a picada e podem incluir: febre leve, erupções na pele, dor de cabeça, desconforto nas articulações, dor muscular e conjuntivite.

De acordo com informações da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), é possível que apenas uma em cada quatro pessoas infectadas apresente sintomas.

Redator(a)

Estella Abreu é estudante de jornalismo no Centro Universitário Braz Cubas e redatora no Olhar Digital.

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Com 10 anos de experiência, é especialista na cobertura de tecnologia. Atualmente, é editor de Dicas e Tutoriais no Olhar Digital.