Cientistas brasileiros tinham um manuscrito de 1838 e um sonho: encontrar uma espécie de árvore que não era vista há 185 anos. Para a boa surpresa de todos, em março, a busca deu certo e identificou quatro exemplares do azevinho pernambucano — de nome cientifico Ilex sapiiformis —, em Pernambuco.

A expedição integra o projeto conservação ambiental da organização Re:wild, famosa por ter como um dos apoiadores o ator Leonardo DiCaprio.

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A expedição:

  • O azevinho pernambucano foi documentado pela primeira vez em 1938 pelo botânico escocês George Gardner.
  • A equipe de pesquisa começou sua busca pelo documento, como uma espécie de caça ao tesouro.
  • Muitas das informações dos relatos de Gardner, como nomes de lugares, eram antigas. Por isso, os cientistas precisaram fazer uma pesquisa com diversos historiadores.
  • Em outra fase do estudo, buscaram pelas características da planta em acervos digitais. Os dados eram escassos, mas chegaram a duas amostras semelhantes às que buscavam: uma de 1962 nos arquivos do Herbário do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) e outra de 2007 do acervo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
  • Em seguida, as amostras mantidas pelo herbário da USP em Ribeirão Preto foram analisadas. A da UFPE era bem mais detalhada e, a partir dela, a equipe pode direcionar a expedição em campo.
  • Depois de uma vasta investigação, chegaram a uma área de plantação de cana-de-açúcar no município de Igarassu (PE), onde encontraram quatro exemplares do azevinho.

Leia mais:

Em entrevista para o Jornal da USP, Milton Groppo Júnior, botânico da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) e integrante da pesquisa, contou que a descoberta ganha relevância por acontecer entre os vestígios da Mata Atlântica, áreas urbanizadas e vulneráveis ambientalmente.

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A paisagem da região conta com poucos fragmentos de mata, muitos já degradados, em uma região cuja ocupação remonta ao Século XVI, no começo da colonização do Brasil pelos europeus na Região Nordeste.

Milton Groppo Júnior para o Jornal da UPS

Próximos passos

Com a descoberta dos quatro exemplares, a equipe do Jardim Botânico de Pernambuco, parceiro da iniciativa, terá a missão de preservar e multiplicar os exemplares encontrados. Isso inclui a coleta de sementes, que é um desafio — já que há pouco informação sobre período em que o azevinho floresce e têm frutos.

Para que a pesquisa consiga garantir a preservação da planta, precisará preencher lacunas de conhecimento sobre a espécie. Juliana Alencar, engenheira agrônoma e especialista em botânica, destaca também que será preciso tomar medidas proteção na área.

Algumas ações precisam acontecer para que essa área consiga conservar ao menos esses indivíduos e dar a eles as condições favoráveis de reprodução.[…] Preservá-la [a árvore] para que ela continue e em maior número

Juliana Alencar para o Jornal da UPS