Funcionários palestinos denunciam “ódio, abuso e retaliação” dentro do Google

Em carta aberta, trabalhadores acusam líderes do Google de ficarem de braços cruzados diante dos casos e de adotarem uma postura pró-Israel
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 09/11/2023 11h02
Google
(Imagem: YueStock / Shutterstock)
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Um grupo de funcionários do Google publicou uma carta aberta criticando a adoção de “dois pesos e duas medidas” em temas ligados ao conflito entre Israel e Palestina. O texto condena ações de “ódio, abuso e retaliação” da empresa contra trabalhadores muçulmanos, árabes e palestinos.

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Carta não apresenta nomes de funcionários por medo de retaliação

  • No texto, os trabalhadores exigem que o CEO do Google, Sundar Pichai, o CEO do Google Cloud, Thomas Kurian, e outros líderes da empresa condenem publicamente “o genocídio em curso (do povo palestino) nos termos mais fortes possíveis”.
  • Além disso, eles pedem que a empresa cancele o Projeto Nimbus, um acordo de US$ 1,2 bilhão, quase R$ 6 bilhões, para fornecer IA e outras tecnologias avançadas para o exército israelense.
  • As informações são da Engadget.

Palestinos são alvos de ódio, abuso e retaliação dentro da empresa

A carta cita exemplos específicos de comportamentos inadequados na empresa. Entre eles, funcionários não identificados acusando palestinos de apoiar o terrorismo, cometendo “calúnias contra o profeta Maomé” e chamando publicamente os palestinos de “animais” nas plataformas oficiais de trabalho do Google.

O texto ainda acusa os líderes da empresa de ficarem “de braços cruzados” em relação a esses casos, e afirma que gerentes do Google chamaram os funcionários de “doentes” e “uma causa perdida” por expressar empatia com os moradores de Gaza.

Somos muçulmanos, palestinos e árabes e colegas judeus antissionistas. Não podemos nos calar diante do ódio, abuso e retaliação a que estamos sendo submetidos no ambiente de trabalho neste momento.

Carta de funcionários do Google

Os trabalhadores também observam que os apelos para doações para instituições de caridade em Gaza são “recebidos com vários comentários desumanizando os habitantes do local como sendo animais”. A carta ainda acusa os gerentes do Google de “questionar, denunciar e tentar demitir usuários muçulmanos, árabes e palestinos que expressam simpatia pela situação do povo palestino sitiado”. E descreve um gerente endossando “vigilância de funcionários do Google nas mídias sociais” e, em seguida, assediando-os abertamente nas plataformas de trabalho da empresa.

É preciso ter muito, muito, muito cuidado, porque qualquer tipo de crítica ao Estado israelense pode ser facilmente tomada como antissemitismo. Parece que tenho que condenar o Hamas 10 vezes antes de dizer uma coisa minúscula criticando Israel.

Sarmad Gilani, engenheiro de software do Google, em entrevista ao The New York Times
facebook israel palestina
(Imagem: Nap1 / Shutterstock.com)

O que diz o Google

Procurado, o Google afirmou que a situação envolve um pequeno número de funcionários e que não representam toda a força de trabalho da empresa. E incentivou os trabalhadores a expressarem essas preocupações ao RH.

Como compartilhamos, este é um momento e tópico altamente sensíveis em todas as empresas e locais de trabalho, e temos muitos funcionários que são afetados pessoalmente. A esmagadora maioria desses funcionários não está envolvida em discussões ou debates internos, e muitos disseram que apreciaram nossa resposta rápida e nosso foco na segurança de nossos funcionários.

Courtenay Mencini, porta-voz do Google

A empresa também minimizou os pedidos de cancelamento do Projeto Nimbus junto ao exército de Israel.

Isso é parte de uma campanha de longa data de um grupo de organizações e pessoas que em grande parte não trabalham no Google. Temos sido muito claros que o contrato Nimbus é para cargas de trabalho executadas em nossa plataforma comercial por ministérios do governo israelense, como finanças, saúde, transporte e educação. Nosso trabalho não é direcionado a cargas de trabalho militares altamente sensíveis ou classificadas relevantes para armas ou serviços de inteligência.

Courtenay Mencini, porta-voz do Google
Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.