Um estudo revela que os recifes de corais de Fernando de Noronha e do arquipélago de São Pedro e São Paulo, dois conjuntos de ilhas oceânicas brasileiras, são ameaçados pelos resíduos de plástico e de apetrechos de pesca abandonados. Os ecossistemas apresentam grande biodiversidade e estão entre aqueles com maior quantidade de lixo, ao lado de recifes de Comores (África Ocidental) e das Filipinas.

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Vida marinha em risco

  • De acordo com o estudo, tanto o plástico quanto o material de pesca abandonado representam graves riscos para a vida marinha.
  • No caso do plástico, por exemplo, os animais podem confundi-los com alimentos e sufocarem ou então se intoxicarem com o material. 
  • Já em relação aos resíduos de pesca, como linhas, redes e anzóis, mesmo no fundo do oceano, eles continuam aprisionando e matando animais marinhos.
  • Além disso, podem quebrar os corais quando ficam presos nos recifes.
  • As informações são da Agência Brasil.
Vida marinha em Fernando de Noronha (Imagem: cabuscaa/Shutterstock)

Plásticos e redes de pesca abandonadas

Apesar de se serem locais mais distantes dos grandes centros urbanos, Fernando de Noronha e o arquipélago de São Pedro e São Paulo estão sofrendo com os impactos provocados pela presença do lixo humano.

A gente mergulhava nesses locais, achando que ia explorar um ambiente completamente desconhecido, mas, na verdade, já tinha evidências de impacto humano nessas regiões, com muito lixo e material de pesca.

Hudson Pinheiro, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza

Mas não são apenas os resíduos que ameaçam a biodiversidade nos corais. A descoberta desse lixo de pesca nesses recifes, afastados da costa, revelam que há grande atividade pesqueira também nessas áreas.  

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Tem essa tendência da pesca ir cada vez mais longe para tentar manter o lucro e a rentabilidade que eles tinham. Vai exaurindo os recursos mais próximos [da costa] e eles vão se afastando. Existe uma característica muito comum de pesca desses ambientes. Quando os pescadores encontram essas áreas [recifais, com grande riqueza de peixes], eles conseguem exaurir todas as espécies comerciais.

Hudson Pinheiro, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza

Em Noronha, por exemplo, nas décadas de 1960 e 1970, houve excesso de pesca do pargo (Lutjanus purpureus), provocando seu desaparecimento na área. Apenas recentemente, pesquisadores voltaram a encontrar indivíduos da espécie. 

Já em São Pedro e São Paulo, os alvos dos pescadores foram os tubarões. Na década de 1970 e início dos 1980, existia uma população muito abundante de tubarões locais recifais. Os animais praticamente desapareceram e a espécie só sobreviveu por conta da proibição da pesca.

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Segundo Hudson Pinheiro, esses recifes se localizam longe da costa continental brasileira. No caso dos recifes costeiros, que se estendem da Bahia ao Rio Grande do Norte, o impacto desse lixo é, provavelmente, ainda maior. Por isso, ele defende que é preciso repensar o uso do plástico pela sociedade e também a utilização de material biodegradável pelos pescadores, de forma que esses equipamentos, caso sejam abandonados no fundo do mar, não sigam causando impactos na vida selvagem.