Como o fanatismo atua no cérebro? Pesquisa busca explicações

Estudiosos utilizaram ressonância magnética para compreender os mecanismos cerebrais por trás do comportamento dos torcedores de futebol
Por Nayra Teles, editado por Lucas Soares 22/11/2023 02h40
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Imagem: Shutterstock/Piotr Piatrouski
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Quem é torcedor de futebol ou conhece alguém que é, sabe que uma partida pode gerar diferentes emoções. Desde alegria, passando por tristeza e a raiva. Fãs do esporte são conhecidos por sua lealdade, mas também por comportamentos violentos. Como será que o fanatismo influência a rivalidade extrema e a agressão?

Cientistas buscaram por respostas para essa questão analisando o cérebro de torcedores em ressonância magnética. Os resultados da pesquisa, que será apresentada no encontro da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA), podem ser um caminho para entender o fanatismo em outras áreas, como a política.

Entendendo o fanatismo: fase de testes

  • Para a pesquisa foram recrutados 43 voluntários saudáveis ​​do sexo masculino que torcem para times de futebol chilenos arquirrivais.
  • Eles foram divididos em dois grupos: 22 torcedores de um time e 21 do time rival.
  • Todos realizaram um teste para medir o nível de fanatismo e passaram por avaliações psicológicas.
  • Os voluntários foram submetidos a ressonância magnética funcional, enquanto assistiam à compilação de partidas contendo 63 gols.
  • A atividade cerebral foi medida por técnica de imagem não invasiva que detecta alterações no fluxo sanguíneo do cérebro.

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Imagem: RSNA/Francisco Zamorano Mendieta, Ph.D.

Os resultados da ressonância magnética revelaram que a atividade cerebral dos torcedores se altera conforme o fracasso ou a vitória de seu time. Quando a equipe vencia, a parte de recompensa do cérebro era ativada, enquanto no caso contrário, a rede de mentalização era acionada, causando um estado de introspecção no indivíduo.

Dr. Zamorano, um dos autores do estudo, explica ao Medical Express, como essa segundo caso afeta o torcedor:

Isso [a introspecção] pode atenuar um pouco a dor da perda. Também observamos a inibição do núcleo cerebral que conecta o sistema límbico com as cortezas frontais, prejudicando o mecanismo que regula o controle cognitivo e aumentando a probabilidade de envolvimento em comportamentos disruptivos ou violentos.

Dr. Zamorano para o Medical Express

Descoberta pode ajudar a entender dinâmica social

O Dr. Zamorano sugere que as descobertas sobre o fanatismo podem oferecer insights valiosos sobre a dinâmica social em várias áreas da vida. Ele explica que a busca inata das pessoas por conexões sociais são, geralmente, moldadas por crenças e interesses compartilhados. Mas, alerta para a influência do “pensamento de grupo”, que pode levar a crenças irracionais e discórdia social.

O fervor observado entre alguns fãs de esportes é um exemplo de investimento emocional intenso, comportamento agressivo e racionalidade comprometida. Segundo Zamorano, compreender a psicologia por trás disso pode proporcionar uma visão mais completa dos processos de tomada de decisão e dinâmicas sociais.

O fandom de esportes apresenta uma oportunidade única para analisar como a devoção intensa afeta a atividade neural em um contexto menos controverso, particularmente ao destacar o papel das emoções negativas , os mecanismos de controle inibitório relacionados e possíveis estratégias adaptativas

Dr. Zamorano em entrevista para o Medical Express

Nayra Teles
Redator(a)

Nayra Teles é estudante de jornalismo na Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e redatora no Olhar Digital

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.