Netflix investiu US$ 55 milhões em série que nunca saiu do papel

Valor foi pago pela Netflix para comprar a série Conquest, em 2018, mas o dinheiro foi torrado pelo criador e diretor Carl Erik Rinsch
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 24/11/2023 14h57
Netflix
(Imagem: XanderSt/ Shutterstock)
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A série de ficção científica Conquest era uma grande aposta da Netflix. Em 2018, a empresa venceu uma disputa com os rivais Amazon, HBO Max e Apple, e desembolsou mais de US$ 55 milhões, cerca de R$ 270 milhões, na superprodução. Mas viu toda a expectativa ir para o lixo por conta dos hábitos curiosos do criador e diretor Carl Erik Rinsch.

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Conquest e a compra pela Netflix

  • Rinsch é conhecido por seu trabalho na indústria publicitária e por assinar o filme 47 Ronin, estrelado por Keanu Reeves.
  • Na época da negociação com a Netflix, o diretor e sua parceria criativa e ex-esposa, Gabriela Rosés Bentancor, apresentaram alguns episódios curtos, finalizados com o dinheiro da produtora 30West.
  • Na trama futurista de Conquest, um cientista genial cria uma espécie de inteligência artificial quase indistinguível da humanidade, e a envia para intervir em locais conflituosos do planeta, esperando que ela nunca seja descoberta.
  • Não dá certo, é claro, e isso acaba engatilhando um conflito mundial.
  • As informações são do Omelete.

Começam os problemas

Pouco depois de assinar o contrato com a Netflix, no entanto, o comportamento de Carl Erik Rinsch mudou. Ele gastou US$ 46 milhões, aproximadamente R$ 225 milhões, com filmagens em São Paulo, Montevidéu e Budapeste. A gravação foi marcada por uma série de polêmicas. No Brasil, por exemplo, um representante do sindicato de atores visitou o set após queixas de maus tratos por parte dos figurantes.

Mas não acaba por aí. Depois de acabar o dinheiro, Rinsch pediu por mais US$ 11 milhões para a Netflix. Com o valor, o diretor imediatamente investiu US$ 10,5 milhões no mercado de ações. Entre as apostas dele, uma empresa que alegava estar nos estágios finais de desenvolvimento de um remédio antiviral para a Covid-19. Resultado: Rinsch perdeu US$ 6 milhões em questão de dias.

Em mensagens trocadas com Bentancor e com executivos da Netflix nesta mesma época, ele demonstrou um estado mental deteriorado: entre suas teorias malucas, ele alegou ser capaz de prever onde raios iriam cair, quando vulcões entrariam em erupção, e em quais padrões a Covid-19 iria se espalhar pelo mundo.

Com o resto do dinheiro, o diretor então investiu na criptomoeda Dogecoin. Mas dessa vez, tirou a sorte grande, lucrando US$ 27 milhões no processo. Então, torrou quase um terço do dinheiro em itens de luxo, incluindo um relógio de mais de US$ 350 mil, seis carros esportivos (cinco Rolls-Royces e uma Ferrari), além de roupas e móveis extravagantes.

Foi aí que a Netflix encerrou sua parceria com o diretor e afirmou que ele podia tentar vender Conquest para outras emissoras ou plataformas de streaming interessadas, desde que elas reembolsassem o prejuízo. Em resposta, Rinsch processou a empresa.

O diretor alega que o dinheiro que gastou era contratualmente seu, que todos os itens que comprou com ele seriam incorporados como objetos de cena em Conquest, e que a plataforma ainda lhe deve US$ 14 milhões do dinheiro que estava previsto na venda da série. A Netflix alega que o pagamento deste dinheiro estava atrelado ao cumprimento de metas de produção e que Rinsch nunca entregou um único episódio finalizado. O caso corre no sistema judicial dos Estados Unidos, ainda no estágio de arbitragem.

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.