Pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Kaunas, na Lituânia, descobriram uma maneira inovadora de reciclar os resíduos de cigarro, que são considerados uma grande fonte de poluição ambiental.

Com base em um método chamado pirólise, eles extraíram uma substância chamada triacetina, que pode ser usada como aditivo para o biodiesel, um combustível renovável e biodegradável.

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Para quem tem pressa

  • A triacetina é um composto que ajuda a reduzir o custo e a emissão de gases de efeito estufa do biodiesel, feito a partir de óleo vegetal ou gordura animal.
  • Normalmente, a triacetina é produzida quimicamente, o que gera resíduos e substâncias tóxicas.
  • No entanto, os pesquisadores descobriram que as bitucas de cigarro são ricas em triacetina, pois ela é usada como plastificante no filtro dos cigarros.

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Sendo assim, eles realizaram uma série de experimentos nos quais submeteram as bitucas de cigarro a altas temperaturas em um reator, sem a presença de oxigênio.

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O processo gerou três produtos: óleo, carvão e gás. O óleo, que continha 43% de triacetina, foi o produto de maior interesse para os pesquisadores, pois pode ser usado como aditivo para o biodiesel.

Por outro lado, os outros produtos também tinham aplicações potenciais, como fertilizante, absorvente, armazenamento de energia e geração de calor.

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Resíduos tóxicos

Segundo os pesquisadores, as pessoas compram aproximadamente 6,5 trilhões de cigarros a cada ano em todo o mundo, resultando em mais de 1,1 milhão de toneladas de resíduos anualmente.

Além disso, o estudo destaca que os resíduos têm grandes quantidades de produtos químicos tóxicos, cancerígenos, fibras microplásticas e elementos radioativos que exigem atenção especial.

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Em nosso grupo de pesquisa trabalhamos nos temas de reciclagem e gestão de resíduos. Por isso, estamos sempre em busca do resíduo, que está presente em grandes quantidades e possui uma estrutura única.

Samy Yousef, pesquisador-chefe da Universidade de Tecnologia de Kaunas

Ele afirma, ainda, que as bitucas de cigarro são fáceis de coletar por existirem muitos sistemas e empresas especializadas.

cigarro
(Imagem: Semevent/Pixabay)

Abordagem original

Sob o mesmo ponto de vista, os pesquisadores afirmam ainda que essa abordagem é original ao tratar as bitucas de cigarro como uma mistura, sem a necessidade de separar seus componentes.

Existem estudos que, assim como nós, estão usando a pirólise como método, mas estão aplicando apenas nos componentes do filtro. Nesse caso, é necessário o pré-tratamento do material para separar todos os componentes, seu descarte requer cuidados especiais e, devido ao processo tecnologicamente complicado de separação dos componentes dos resíduos de cigarro, isso não é economicamente viável.

Todos os produtos têm aplicações reais

Após uma série de experimentos de pirólise em diferentes temperaturas, os pesquisadores conseguiram extrair óleo (38–39,5% em peso), carvão (25,7–27,7% em peso) e gás (33–36,4% em peso) dos resíduos de cigarros.

De acordo com Yousef, todos os produtos possuem aplicações reais. O carvão, por exemplo, é poroso e rico em cálcio, podendo ser usado como fertilizante, ou no tratamento de águas residuais como absorvente, e armazenamento de energia.

Já o gás pode ser usado para fins energéticos e, o óleo, rico em triacetina, pode ser usado como aditivo ao biodiesel para reduzir o custo.

Coleta de resíduos e estratégia de reciclagem

Para integrar tecnologias emergentes de tratamento de resíduos a um sistema de economia circular, é necessário um sistema de coleta, estratégia de reciclagem e infraestrutura adequados.

Cestos de lixo metálicos e cinzeiros são amplamente utilizados para coletar pontas de cigarro separadamente dos resíduos sólidos.

Os pesquisadores propõem uma estratégia de reciclagem que envolve o tratamento por pirólise a 750°C, que converte termicamente as pontas de cigarro em carvão, gás e óleo, como explicado antes.

Até o desenvolvimento de sistemas como esse, Yousef relata que o grupo vai explorar outras possibilidades de utilização de resíduos de cigarro.