LK-99: supercondutor? Mais um estudo comprova que ainda não foi desta vez

Revelado pela Coreia do Sul como supercondutor, o LK-99 tem suas capacidades refutadas constantemente – será este o último prego no caixão?
Flavia Correia30/11/2023 13h43
superdondutor
Estamos próximos de descobrir um material supercondutor? Talvez, não. Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital
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Em julho deste ano, pesquisadores da Coreia do Sul anunciaram o desenvolvimento de um supercondutor de eletricidade em temperatura e pressão ambientes. Isso é algo tão revolucionário que, se fosse confirmado, poderia mudar o mundo.

Vamos entender o porquê. Os supercondutores transmitem eletricidade sem resistência e têm uma série de propriedades magnéticas que os tornam inestimáveis em aplicações tecnológicas. Normalmente, os supercondutores precisam ser resfriados a temperaturas muito baixas. Assim, um supercondutor capaz de trabalhar fora do laboratório em condições regulares seria realmente transformador. 

Rerepsentação artística do cristal de LK-99, material que teria propriedades supercondutoras (mas… não tem). Crédito: Rokas Tenys – Shutterstock

No entanto, os verbos, pelo visto, vão continuar sendo conjugados no futuro do pretérito – traduzindo: o que poderia ter sido, mas não foi. Isso porque diversos estudos já derrubaram a hipótese. E agora chegou mais um para, talvez, encerrar de vez esse assunto.

Vamos recapitular essa história:

  • Físicos da Coreia do Sul desenvolveram um material chamado LK-99, que eles alegavam ser capaz de transmitir eletricidade sem resistência, o que o tornaria um supercondutor;
  • Tão logo o material foi anunciado ao mundo, alguns cientistas já disseram ter encontrado inconsistências no estudo e na possibilidade de aplicação real;
  • Uma equipe da China conseguiu replicá-lo e testá-lo com sucesso;
  • No entanto, outros testes se faziam necessários para comprovar a eficácia do material em condições regulares;
  • Caso fosse confirmado, isso seria digno de um Prêmio Nobel de Física, tamanha a importância de tal descoberta, que teria uma extensa variedade de aplicações;
  • Para decepção de muitos, em agosto, três estudos concluíram a inaplicabilidade do LK-99;
  • Agora, mais uma equipe apresentou resultados tão desanimadores quanto, confirmando que o material não é mesmo um supercondutor.

2023 quase foi o ano em que revelamos um supercondutor

Desde 1911, quando a descoberta da supercondutividade surpreendeu a comunidade científica, os pesquisadores têm buscado materiais que se comportem como supercondutores em situações comuns, fora do ambiente de laboratório.

A supercondutividade é caracterizada pela ausência de resistência elétrica e pela capacidade de repelir campos magnéticos, permitindo a levitação acima de ímãs. Imagine se encontrássemos um material por meio do qual a eletricidade fluísse sem resistência a temperaturas e pressões normais. Isso abriria portas para supercomputadores, trens flutuantes e sistemas de energia ultra-eficientes.

Houve expectativa de que 2023 fosse o ano em que os cientistas alcançariam a supercondutividade em condições ambientes. No entanto, essas esperanças foram frustradas três vezes em poucos meses, em revisões por pares das descobertas da equipe sul-coreana sobre o LK-99.

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Composto por cobre, chumbo, fósforo e oxigênio, esse material tem sido alvo de atenção após a alegação de que sua resistência elétrica diminuía drasticamente a 105°C.

E mais um estudo, publicado esta semana na revista Matter, vem corroborar com as três revisões anteriores e atestar que LK-99 não é um material supercondutor. 

Pesquisadores do Instituto de Física da Academia Chinesa de Ciências descobriram que as tais propriedades supercondutoras do LK-99 provavelmente se originam de impurezas no material (em particular, sulfeto de cobre), em vez do próprio composto, ou seja, é um comportamento resultante de uma transição estrutural.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.