Em julho deste ano, pesquisadores da Coreia do Sul anunciaram o desenvolvimento de um supercondutor de eletricidade em temperatura e pressão ambientes. Isso é algo tão revolucionário que, se fosse confirmado, poderia mudar o mundo.
Vamos entender o porquê. Os supercondutores transmitem eletricidade sem resistência e têm uma série de propriedades magnéticas que os tornam inestimáveis em aplicações tecnológicas. Normalmente, os supercondutores precisam ser resfriados a temperaturas muito baixas. Assim, um supercondutor capaz de trabalhar fora do laboratório em condições regulares seria realmente transformador.

No entanto, os verbos, pelo visto, vão continuar sendo conjugados no futuro do pretérito – traduzindo: o que poderia ter sido, mas não foi. Isso porque diversos estudos já derrubaram a hipótese. E agora chegou mais um para, talvez, encerrar de vez esse assunto.
Vamos recapitular essa história:
- Físicos da Coreia do Sul desenvolveram um material chamado LK-99, que eles alegavam ser capaz de transmitir eletricidade sem resistência, o que o tornaria um supercondutor;
- Tão logo o material foi anunciado ao mundo, alguns cientistas já disseram ter encontrado inconsistências no estudo e na possibilidade de aplicação real;
- Uma equipe da China conseguiu replicá-lo e testá-lo com sucesso;
- No entanto, outros testes se faziam necessários para comprovar a eficácia do material em condições regulares;
- Caso fosse confirmado, isso seria digno de um Prêmio Nobel de Física, tamanha a importância de tal descoberta, que teria uma extensa variedade de aplicações;
- Para decepção de muitos, em agosto, três estudos concluíram a inaplicabilidade do LK-99;
- Agora, mais uma equipe apresentou resultados tão desanimadores quanto, confirmando que o material não é mesmo um supercondutor.
2023 quase foi o ano em que revelamos um supercondutor
Desde 1911, quando a descoberta da supercondutividade surpreendeu a comunidade científica, os pesquisadores têm buscado materiais que se comportem como supercondutores em situações comuns, fora do ambiente de laboratório.
A supercondutividade é caracterizada pela ausência de resistência elétrica e pela capacidade de repelir campos magnéticos, permitindo a levitação acima de ímãs. Imagine se encontrássemos um material por meio do qual a eletricidade fluísse sem resistência a temperaturas e pressões normais. Isso abriria portas para supercomputadores, trens flutuantes e sistemas de energia ultra-eficientes.
Houve expectativa de que 2023 fosse o ano em que os cientistas alcançariam a supercondutividade em condições ambientes. No entanto, essas esperanças foram frustradas três vezes em poucos meses, em revisões por pares das descobertas da equipe sul-coreana sobre o LK-99.
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Composto por cobre, chumbo, fósforo e oxigênio, esse material tem sido alvo de atenção após a alegação de que sua resistência elétrica diminuía drasticamente a 105°C.
E mais um estudo, publicado esta semana na revista Matter, vem corroborar com as três revisões anteriores e atestar que LK-99 não é um material supercondutor.
Pesquisadores do Instituto de Física da Academia Chinesa de Ciências descobriram que as tais propriedades supercondutoras do LK-99 provavelmente se originam de impurezas no material (em particular, sulfeto de cobre), em vez do próprio composto, ou seja, é um comportamento resultante de uma transição estrutural.