Multiverso é real? Filósofo tem uma resposta

Cientistas ainda não concordam entre si acerca da existência de um multiverso, mas filósofo tem novas proposições
Por Vitoria Lopes Gomez, editado por Ana Luiza Figueiredo 13/12/2023 04h40
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(Imagem: Vitória Lopes Gomez via DALL-E)
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Quanto mais pessoas compram cartelas de loteira, mais é provável que alguma delas tenha a combinação de números vencedora. Essa mesma lógica é usada por alguns pesquisadores para justificar a existência de um multiverso: quanto mais planetas existirem nesses múltiplos universos, mais é provável que algum deles tenha as condições exatas para abrigar a vida humana.

Essa analogia embasa uma teoria física e filosófica de “ajuste fino”, em que um valor (seja numérico ou não) ou conjunto de valores muito específico são usados para explicar um fenômeno. No entanto, o filósofo e escritor britânica Philip Goff, em um artigo publicado no site The Conversation, prega que a existência ou não de um multiverso não é bem assim.

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Como a física entende o multiverso?

Nem os físicos têm certeza sobre o multiverso. Para os que acreditam na teoria do “ajuste fino”, ele poderia ser real justamente pelo exemplo inicial: são necessários múltiplos universos para que um seja habitável.

Para embasar essa teoria, eles aplicam o exemplo à existência de matéria escura, a força que motivou a expansão do universo em primeiro lugar. Se ela fosse apenas um pouco mais forte, não conseguiria se manter unida e nunca chegaria a formar planetas, estrelas e nenhum outro tipo de astro. No entanto, se fosse apenas um pouco mais fraca, não suportaria a gravidade e teria se destroçado — da mesma forma, não formaria nada do que conhecemos hoje.

Ou seja, para que o universo se forme, um conjunto exato de fatores teve que acontecer, nem mais, nem menos. Essa mesma corrente de pensamento justifica a existência de um multiverso: para haver um planeta com as condições necessárias para vida, existem outros tantos que não têm as mesmas condições.

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Existência de outros universos ainda não é uma certeza absoluta (Imagem: Nuamfolio / Shutterstock.com)

Multiverso pode não ser real

  • No entanto, Goff defende que isso é uma falácia. Ele dá um exemplo que desafia a teoria do “ajuste fino”.
  • Suponha que uma pessoa (a qual ele chama de Betty) esteja jogando bingo em um lugar do mundo. Ela é a única jogadora do local e, logo no primeiro minuto de sorteio, tira todos os números que precisa para completar a cartela.
  • Segundo a teoria do ajuste fino, outras pessoas teriam que estar jogando em outros lugares do mundo e não tendo seus números sorteados para que alguém tivesse esse conjunto de fatores exatos. Assim, não seria improvável que, de tantas pessoas, uma conseguisse o feito.
  • Goff defende que isso não faz sentido porque, por mais que possam haver outras pessoas jogando bingo no mesmo momento ao redor do mundo, é mais provável que Betty tenha tido apenas sorte.
  • A mesma coisa acontece ao girar um dado. É comum acreditar que quanto mais tiramos um número específico, como um seis, menos provável será tirá-lo na próxima rodada. Só que, na verdade, a probabilidade de tirar qualquer número em qualquer rodada é exatamente o mesmo.

Outras teorias

Outras teorias ainda dizem que, porque conhecemos nosso universo dessa maneira, não conseguimos imaginar outras situações, mas isso não significa que elas não existem. Seria a mesma coisa de dizer que Betty não poderia completar a cartela de bingo com outros números, apesar de saber que existem outras.

Apesar do caso ser verdadeiro, para Goff, ainda não justificaria a afirmação de que há outras pessoas jogando bingo.

Imagem ilustrativa do Universo
(Imagem: NASA/Unsplash)

É real ou não?

A resposta é: não se sabe.

Goff menciona uma hipótese que poderia justificar a existência do multiverso. Os cientistas trabalham com uma teoria de inflação, em que o universo aumentou de tamanho ao longo do tempo, podendo ter criado outros universos. Se isso aconteceu uma vez, pode acontecer novamente e criar ainda mais universos dentro de um grande multiverso.

Do lado contrário, ele explica que os pesquisadores trabalham com evidências claras e a única evidência que se tem de um multiverso é na base da probabilidade.

O multiverso que tanto ouvimos falar pode ser real ou não, mas não saberemos a reposta tão cedo.

Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.