A Rússia foi alvo de diversas sanções do Ocidente após invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022. Mas quase dois anos após o início do conflito, Moscou continua tendo acesso a tecnologias consideradas fundamentais para manter a economia do país funcionando.

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Sanções não surtiram o efeito esperado

  • China e Hong Kong forneceram 85% dos chips semicondutores importados para a Rússia de março de 2022 a setembro de 2023.
  • Antes da guerra, o número era de 27%, de acordo com a Silverado Policy Accelerator, uma organização sem fins lucrativos que estuda as rotas comerciais russas.
  • Essa é apenas uma parte das saídas encontradas por Moscou para driblar as sanções e continuar operando a máquina de guerra do país em meio ao conflito na Ucrânia.
  • Apesar da proibição do comércio com os russos, quase nenhuma peça de hardware comercial, incluindo equipamentos básicos de telecomunicações, equipamentos de vigilância, microchips para computação avançada e sistemas de armasdrones, tem sido muito difícil de obter.
  • As informações são do The New York Times.

Produtos continuam chegando à Rússia

Um exemplo mostra o caminho que algumas tecnologias percorrem até chegar ao território russo. Pouco depois da invasão da Ucrânia, a Convex, uma empresa russa de telecomunicações, precisava encontrar equipamentos americanos para transmitir dados ao serviço de inteligência do país.

Mesmo com a Cisco, fornecedora de tecnologia dos EUA, interrompendo as vendas para a Rússia em 3 de março de 2022, os engenheiros da Convex obtiveram facilmente os equipamentos da empresa em um site de comércio eletrônico russo chamado Nag, que contornou as restrições do comércio internacional comprando o equipamento americano por meio de uma rede de fornecedores na China.

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Os russos também se voltaram para países que assumiram posições neutras no conflito, caso do Marrocos. Os portos da nação africana são utilizados para receber mercadorias de centros globais de fabricação de tecnologia que depois são colocados em outros navios com destino à Rússia.

Procurada pela reportagem do The New York Times, a Cisco não quis comentar. Já a Convex não respondeu.

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Portos de nações “neutras” são utilizados pela Rússia para conseguir acesso a produtos sancionados (Imagem: Avigator Fortuner/Shutterstock)

Chips, IA e muito mais

Funcionários da ProSoft, empresa que vende equipamentos de vigilância biométrica e tecnologia para a indústria pesada e infraestrutura crítica, enviaram um e-mail à missão comercial do governo russo no Marrocos pedindo ajuda para driblar as sanções. Uma planilha anexada à mensagem listava centenas de microchips e sensores americanos, europeus e japoneses de que a ProSoft precisava.

Uma porta-voz da Tanger Med, no Estreito de Gibraltar, disse que o porto arrendou o espaço para empresas de navegação e não tem “nenhuma informação nem responsabilidade” sobre as embarcações que passam pelo complexo. O porto movimenta mais de oito milhões de contêineres anualmente conectando-se a 180 portos internacionais.

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Em novembro de 2022, autoridades comerciais russas no Marrocos estavam se gabando de que seu “apoio direto” havia transformado o país africano em um centro de transbordo de eletrônicos. Mercadorias de Taiwan, China e outros centros de fabricação foram descarregadas em Tanger Med e depois colocadas em outros navios com destino à Rússia.

Uma análise das ofertas da ProSoft encontrou quase 300 produtos à venda que contêm chips da Intel, bem como componentes feitos pela Nvidia e um chip de computador otimizado para IA projetado pelo Google. Embora não esteja claro como as importações foram usadas, chips americanos foram encontrados em mísseis e drones russos, de acordo com especialistas em armas.

Nvidia, Intel e Google não quiseram comentar o caso. A Texas Instruments disse se opor “ao desvio ilícito de nossos produtos para a Rússia”. A ProSoft, a NXP e o representante comercial da Rússia no Marrocos não responderam a pedidos de comentários.