Caminhar está entre as atividades favoritas da minha família. Toda viagem é a mesma coisa: a gente encaixa uma boa caminhada em algum horário do dia, seja pela manhã, no fim da tarde ou pouco depois do almoço, algo leve para ajudar na digestão.

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Talvez por ser algo natural para mim, eu nunca pensei na origem dessa atividade. Até me deparar com a reflexão da PhD em Literatura Lauren Nichola Colley.

Formada pela Universidade de Cambridge (Inglaterra), ela estudou registros históricos e explicou que, até o final do século XVIII, as pessoas não saiam para “dar uma volta” ou “para um passeio”.

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Isso não existia nem era cogitado.

Voltando no tempo

É verdade que o homem anda há milhões de anos. Nossos ancestrais, porém, caminhavam para caçar, para migrar, enfim, para sobreviver. Não era uma atividade ligada ao lazer e ao bem-estar.

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Milênios depois e o status da caminhada não mudou. De acordo com a pesquisadora, o conceito começou a ser alterado apenas na Inglaterra da Era Vitoriana.

E as explicações são totalmente plausíveis. Para começo de conversa, a pavimentação é uma conquista relativamente moderna da sociedade. A Grécia Antiga e a Roma Antiga usavam pedras no chão, por exemplo. Ou terra batida. Algo que permaneceu até a Idade Média.

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O asfalto, porém, data da Revolução Industrial. Ou seja, antes disso, o solo era acidentado demais para caminhadas.

Colley também afirmou que até 1780, aproximadamente, o ato de caminhar era associado à pobreza, a bandidos ou a vagabundos. Pessoas com maior poder aquisitivo passavam a vida toda sem andar muitos quilômetros.

Ruas fedidas

Outro ponto interessante da pesquisa diz respeito ao saneamento básico.

Imagine Londres no início do século XIX. Uma das principais cidades do mundo, lotada de gente. E imunda, segundo relatos. Um surto de cólera que matou centenas de pessoas em 1854 é que fez com que as autoridades dessem início a um planejamento de rede de esgoto.

O exemplo foi seguido depois por outros países, mas voltemos a essa Londres.

Estima-se que 300 mil cavalos percorriam as ruas da capital inglesa, depositando mais de 1.000 toneladas de esterco todos os dias.

Sem esgoto, as pessoas de regiões mais pobres jogavam o conteúdo dos penicos pela janela…

Deu para entender um pouco por que a caminhada não era nem considerada uma atividade certo?

Mas quem mudou essa chavinha?

Segundo Lauren Nichola Colley, os amantes da caminhada devem agradecer a dois países: Inglaterra e Estados Unidos.

E, entre os ingleses, um dos pais desse tipo de passeio foi o escritor Charles Dickens, talvez o principal autor da Era Vitoriana.

Ele andava todos os dias cerca de 20 quilômetros. Fazia parte do seu processo criativo. O órfão pobre Oliver Twist, por exemplo, era um retrato do que Dickens via diariamente durante suas andanças pelas favelas londrinas.

Como um famoso “caminhava”, as pessoas começaram a olhar de um jeito diferente para a atividade. Tanto que um jornal daquela época chegou a publicar um texto com regras de bom comportamento durante os passeios.

“Não ande de braços cruzados”, “não encare as pessoas”, não faça isso assobiando”, “não atrapalhe os outros com uma marcha descontrolada”.

Bom, ainda bem que seguimos essas regras até hoje.

Esporte americano

O pedestrianismo é o antecessor da marcha atlética, um esporte olímpico que consiste, basicamente, numa caminhada com passos acelerados (sendo que você não pode tirar os dois pés do chão ao mesmo tempo).

A prática nasceu na Inglaterra, mas cresceu mesmo nos Estados Unidos do século XIX.

Lá o negócio se tornou competitivo, com esquemas de apostas até.

De acordo com Colley, eram organizados torneios que duravam até seis dias! Os participantes caminhavam centenas de quilômetros, cochilavam em barracas perto da pista e voltavam a andar. Tudo regado a álcool.

Com atletas e famosos caminhando, a sociedade passou a encarar a caminhada de um modo diferente. O resto é história.

As informações são do site Medical Xpress.