Na natureza, plantas convertem dióxido de carbono (CO2) do ar em energia. No Instituto Max Planck, da Alemanha, cientistas desenvolvem uma via sintética capaz de capturar gás carbônico de forma mais eficiente. E ainda acham um jeito de implementá-la em bactérias vivas.

Para quem tem pressa:

  • Cientistas do Instituto Max Planck, na Alemanha, desenvolveram uma via sintética – o ciclo THETA – capaz de capturar dióxido de carbono de forma mais eficiente que a natureza;
  • O ciclo THETA, composto por 17 biocatalisadores, produz acetyl-CoA, molécula fundamental não só para biocombustíveis mas também para diversos materiais e produtos farmacêuticos;
  • A equipe otimizou o ciclo THETA em laboratório e começou a incorporá-lo em bactérias E. coli, dividindo o processo em três módulos funcionais;
  • O próximo passo é integrar todos os módulos numa única célula de E. coli, o que requer sincronização com o metabolismo natural da bactéria. A pesquisa abre caminho para instruir micróbios a produzir uma variedade de compostos valiosos de forma sustentável.

Por meio desse caminho, chamado de ciclo THETA pelos cientistas, se cria acetyl-CoA. Essa molécula é uma espécie de tijolinho e pode ajudar a produzir biocombustíveis e outros produtos de maneira sustentável.

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Avanços no laboratório inspirados na natureza

Frascos de pesquisa sobre gás carbônico em laboratório
(Imagem: MPI f. Terrestrial Microbiology/Geisel/Instituto Max Planck)

As plantas são famosas por converterem gás carbônico em energia para alimentar seu crescimento. Com excesso de CO2 na atmosfera, não surpreende que os cientistas recorrem a esse processo para ajudar a controlar os níveis, enquanto produzem combustíveis e outras moléculas úteis.

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O ciclo THETA usa 17 biocatalisadores para produzir a molécula chamada acetyl-CoA. Além de importante para biocombustíveis, esse tijolinho pode ser a chave para uma variedade de outros materiais e produtos farmacêuticos.

Essa via sintética é construída em torno das duas enzimas de fixação de CO2: crotonil-CoA carboxilase/reductase e fosfoenolpiruvato carboxilase. Ambas isoladas de bactérias. 

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Embora cada uma delas seja mais de dez vezes mais rápida na captura de gás carbônico do que a enzima primária que as plantas usam, a evolução parece não tê-las naturalmente emparelhado ainda. Então, os cientistas o fizeram.

Rota da pesquisa

Primeiro, a equipe construiu o ciclo THETA em tubos de ensaio para confirmar sua capacidade de capturar duas moléculas de CO2 do ar e convertê-las em uma molécula de acetyl-CoA. 

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Depois, os pesquisadores o otimizaram ao longo de várias rodadas de experimentos para aumentar seu rendimento em 100 vezes. Finalmente, eles começaram a incorporar o ciclo em células de E. coli, bactéria do intestino de animais e humanos.

O processo de 17 etapas é muito complicado para uma única célula lidar, então a equipe dividiu-o em três módulos e os incorporou em E. coli. Cada módulo funcionou conforme esperado, segundo o Instituto Max Planck. A pesquisa foi publicada na revista Nature Catalysis.

E agora?

O próximo passo é juntar tudo numa única célula. Mas isso exigirá a sincronização de cada etapa com o metabolismo natural da E. coli. Mesmo assim, esse marco é importante, diz a equipe. A técnica poderia ser adaptada para instruir micróbios a produzir diversos compostos valiosos.

“O que é especial sobre esse ciclo é que ele contém vários intermediários que servem como metabólitos centrais no metabolismo da bactéria”, disse Shanshan Luo, autor principal do estudo. “Essa sobreposição oferece a oportunidade de desenvolver uma abordagem modular para sua implementação.”