Crateras (e explosões) estranhas na Sibéria têm explicação, diz estudo

O surgimento aparentemente aleatório de crateras na Sibéria intriga cientistas desde 2012 – e um novo estudo propõe uma explicação
Pedro Spadoni16/01/2024 12h08, atualizada em 16/01/2024 12h10
Pessoas na beira de uma das crateras na Sibéria
(Imagem: Aleksandr Lutcenko/Shutterstock)
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Crateras gigantescas têm aparecido no permafrost – solo congelado há anos – da Sibéria de forma aparentemente aleatória desde 2012. Isso intriga cientistas, claro. Agora, pesquisadores sugerem uma nova explicação sobre o que abre as crateras misteriosas.

Para quem tem pressa:

  • Cientistas propõe uma explicação para o aparecimento de crateras gigantescas no permafrost da Sibéria, fenômeno que tem ocorrido (e intrigado pesquisadores) desde 2012;
  • A hipótese, ainda não validada por revisão de pares científicos, foi publicada no servidor online EarthArXiv. Ela propõe que as crateras surgem em áreas específicas da Sibéria devido à liberação de gás natural, que causa explosões;
  • As crateras, que podem atingir 50 metros de profundidade e 20 metros de largura, surgem em uma região conhecida por suas reservas de gás natural. O autor principal do estudo, Helge Hellevang da Universidade de Oslo, relaciona o fenômeno ao enfraquecimento do permafrost devido às mudanças climáticas e ao aquecimento global;
  • Os pesquisadores acreditam que gás natural quente subindo através de falhas geológicas pode estar aquecendo e enfraquecendo o permafrost, levando ao colapso do solo e à formação das crateras.

Os cientistas propõe que gás natural, escapado de reservas subterrâneas, está por trás das explosões repentinas – que podem ser ouvidas a aproximadamente 100 quilômetros, segundo relatos publicados pelo Siberian Times

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A hipótese, publicada no servidor online EarthArXiv, pode explicar porque as crateras aparecem em áreas específicas na Sibéria. No entanto, a revisão de pares científicos ainda não validou o artigo.

Crateras misteriosas na Sibéria

Uma das crateras na Sibéria
(Imagem: GreSiStudio/Shutterstock)

O tamanho das crateras impressiona. Elas podem alcançar cerca de 50 metros de profundidade e 20 metros de largura. Além disso, as explosões repentina lançam detritos a mais de 60 metros de distância.

A área é conhecida por suas vastas reservas subterrâneas de gás natural, disse o autor principal do estudo, Helge Hellevang, professor de geociências ambientais na Universidade de Oslo, na Noruega, ao Business Insider. “Quando mudanças climáticas ou o aquecimento da atmosfera enfraquecem outra parte do permafrost, você obtém essas erupções – apenas na Sibéria.”

O permafrost aprisiona muito material orgânico. À medida que as temperaturas sobem, ele descongela. Com isso, o material se decompõe, o que libera metano. E o vazamento desse metano, a partir do próprio permafrost, estaria por trás (ou seria por baixo?) das crateras.

A ideia não é absurda. É o processo, por exemplo, por trás de termocarstos, lagos que aparecem em áreas onde o permafrost derrete. Esses lagos borbulham com metano – e podem ser incendiados. No entanto, isso não explica por que as tais crateras são tão localizadas.

Hipótese dos pesquisadores

Praia na Sibéria
(Imagem: Michael Dorogovich/Shutterstock)

Até agora, apenas oito dessas crateras foram identificadas. Todas ficam numa área muito específica: as penínsulas de Yamal e Gydan, na Sibéria Ocidental, no norte da Rússia. Em contraste, os “lagos explosivos” aparecem numa grande variedade de áreas com permafrost, incluindo o Canadá.

Hellevang e seus colegas sugerem que há outro mecanismo em jogo: gás natural quente. Ele sobe por meio de algum tipo de falha geológica, se acumula sob a camada congelada do solo e aquece o permafrost por baixo. Essas plumas de gás quente ajudariam a descongelar o permafrost de baixo para cima, tornando-o mais fraco e mais propenso a colapsar.

O aumento das temperaturas derrete a camada superior do permafrost ao mesmo tempo. Isso cria as condições perfeitas para que o gás seja libertado repentinamente, desencadeando uma explosão ou um “colapso mecânico” causado pelo gás, que está sob pressão. Isso cria a cratera, segundo Hellevang e colegas.

De acordo com o modelo proposto pelo cientista, mais dessas crateras podem ter sido criadas e desapareceram à medida que água e solo caíram para preencher a lacuna. “Se você olhar para a imagem de satélite da Península de Yamal, há milhares dessas depressões redondas em forma de placa. A maioria ou todas elas poderiam ter sido termocarstos, mas também poderiam ser crateras anteriores que se formaram”, disse Hellevang.

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.