Há apenas 4 meses a Terra recebia uma importante encomenda trazida pela sonda espacial OSIRIS-Rex: uma cápsula contendo valiosos fragmentos extraídos do asteroide Bennu e que podem nos ajudar a desvendar alguns dos mistérios da formação do Sistema Solar e até mesmo da origem da vida aqui na Terra. A importância científica de missões como essa justificam todo o tempo e dinheiro investido nessas empreitadas espaciais. Mas de vez em quando, o Universo nos surpreende, enviando, absolutamente de graça, amostras de outros mundos na forma de meteoritos.

Um dos mimos mais recentes chegou à Terra no último domingo, mas desta vez, a surpresa não foi tão surpreendente assim. Isso porque essa encomenda cósmica foi percebida ainda no espaço, poucas horas antes de atingir a Terra. O presente era o asteroide 2024 BX1, descoberto no final da noite de sábado, dia 20 e que acertou nosso planeta na primeira hora do domingo, dia 21 de janeiro. 

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Este foi apenas o oitavo asteroide detectado no espaço antes de atingir a Terra em toda a história, e essa observação, apesar do pouco tempo antes do impacto, permitiu aos cientistas calcular o local em que ele atingiria a Terra e possibilitou que o objeto fosse amplamente flagrado em sua passagem pela atmosfera. Para coroar este evento magnífico, uma parte deste asteroide sobreviveu à passagem atmosférica, seus primeiros meteoritos já foram encontrados e tudo indica que se trata de um meteorito raro, um pedaço de um outro mundo, enviado até nós pelo acaso cósmico.

[ À esquerda: Impactos de pequenos asteroides detectados pela rede internacional de sensores de infrassom gerenciados pelo governo americano. À direita: Impactos de asteroides detectados ainda no espaço antes de atingir a Terra (sem contar com o 2024 BX1) – Créditos: NASA/Asteroid Day Brasil  ]

O asteroide 2024 BX1 foi descoberto pelo astrônomo Kristián Sárneczky a partir do observatório de Piszkéstetõ, na Hungria. Sárneczky já era um profícuo descobridor de asteroides e cometas, mas que vem ganhando ainda mais relevância no cenário internacional por suas recentes descobertas. O 2024 BX1 foi o terceiro asteroide descoberto por ele que impactou o nosso planeta poucas horas depois. 

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Suas primeiras observações foram feitas às 21h48 do dia 20 de janeiro no Horário Universal. O asteroide aparecia apenas um pálido ponto luminoso se movendo rapidamente no céu. Sárneczky já sabia que aquilo indicava um asteroide muito próximo a Terra, então encaminhou os dados observacionais para o Minor Planet Center, que imediatamente os publicou na página do Centro de Confirmação de Objetos Próximos à Terra, para que outros astrônomos pudessem fazer observações adicionais.

[ Primeiras observações do 2024 BX1 – Créditos: Kristián Sárneczky / Konkoly Observatory  ]

Automaticamente, o sistema Scout, da NASA, entrou no circuito, buscando os novos dados e calculando a trajetória do objeto. Pouco mais de 1 hora depois das primeiras observações de Sárneczky, o Scout já havia alertado que o impacto com a Terra era certo, e juntando as novas observações que chegaram na sequência, pôde definir a área de impacto a oeste de Berlim, capital da Alemanha. 

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Felizmente, o asteroide era bem pequeno, provavelmente do tamanho de uma lavadora de roupas, e certamente grande parte de sua massa acabou vaporizada durante a passagem atmosférica. Se tivesse uns 70 metros como o que atingiu Tunguska em 1908 ou mesmo uns 20 metros, como o que explodiu sobre Chelyabinsk em 2013, seria um presente espacial de grego, e as notícias que traríamos aqui certamente não seriam tão boas.

Como este não representaria nenhum perigo, nada melhor do que nos prepararmos para receber o presente vindo do espaço. O impacto deveria ocorrer à 00h32 do dia 21 de janeiro, menos de 3 horas depois da descoberta do asteroide. Mesmo o horário impróprio e o inverno rigoroso não impediram que algumas poucas pessoas  que souberam desse acontecimento enfrentassem o frio para registrar um raríssimo meteoro cuja passagem pode ser prevista horas antes. 

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Surgiram inúmeras imagens, vindas de câmeras de vigilância, de monitoramento de meteoros, de celular e até mesmo de lives realizadas para transmitir a passagem atmosférica do asteroide. Agora, ao que tudo indica, a surpresa maior dessa história ficou reservada para o final, para o momento em que fomos abrir o nosso presente e ver o que ganhamos. 

[ Meteoro gerado pela passagem do asteroide 2024 BX1 pela atmosfera – Créditos: Peter L. ]

Com base nas dezenas de vídeos do meteoro, os astrônomos se apressaram em calcular a sua trajetória pela atmosfera e estimar a área de dispersão dos meteoritos, que são os fragmentos que restam da passagem atmosférica de um asteroide como este. E nesta quinta-feira, apenas 4 dias depois do impacto do 2024 BX1, seus primeiros fragmentos foram encontrados próximos à cidade de Retzow, a oeste de Berlim.

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Esses meteoritos parecem bem diferentes. Sua crosta externa, formada pelo derretimento causado pelo calor da passagem atmosférica, não é escura e opaca como na maioria dos meteoritos. As rochas parecem apresentar uma crosta vítrea e translúcida, evidenciando parte da estrutura interna da rocha espacial. 

Nenhuma análise química ou petrológica foi realizada até o momento, mas pelas poucas imagens divulgadas, alguns especialistas acreditam se tratar de um Eucrito, que faz parte da família de meteoritos provenientes do asteroide Vesta. Esse é um tipo raro de meteorito que traz até nós, fragmentos do subsolo do maior asteroide do Sistema Solar, fazendo de graça, mais ou menos o que a OSIRIS-Rex fez com um investimento de cerca de 1 bilhão de dólares. 

Outras análises despretensiosas, levantam a possibilidade de ser um meteorito lunar, uma classe ainda mais rara e que tem origem em nosso satélite natural, o que seria fantástico, principalmente agora que a Lua voltou a ter grande atenção dos cientistas. 

Mas a principal aposta até o momento é que os meteoritos do asteroide descoberto por Sárneczky pertençam à classe dos Aubritos, um tipo raríssimo de meteorito formado a partir de um impacto colossal em um grande corpo que ainda não se sabe qual é, mas tem entre os suspeitos, o asteroide Eger, o Nysa e o planeta Mercúrio. 

Ao que tudo indica, o asteroide 2024 BX1 veio presentear o entusiasmo científico da humanidade, nos entregando um pedacinho de um mundo desconhecido. Entretanto, mesmo ainda não sabendo qual a sua origem, já podemos afirmar que o seu destino será nos ajudar a aprender um pouco mais da história da formação do nosso Sistema Solar e do Universo que nos cerca