Remédios já existentes e usados para combater outras doenças podem ser uma possibilidade de tratamento efetivo para a raiva humana. Foi isso que apontou uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina Veterinária da USP.

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Reposicionamento de remédio contra o câncer

  • Os pesquisadores usaram o medicamento Hiltonol, já aprovado em uso para seres humanos em casos de câncer, em testes com animais.
  • Eles verificaram que o remédio inibiu a desativação das defesas do organismo pelo vírus da raiva, freando a progressão da doença e aumentando a sobrevida dos infectados.
  • A próxima etapa são os testes em culturas de células e, depois, em seres humanos.
  • Atualmente, os pacientes com raiva são mantidos em coma induzido para aliviar seu sofrimento e recebem um coquetel de antivirais usados contra vírus diferentes da raiva.
  • No entanto, o procedimento apresenta uma baixíssima taxa de sucesso, a um custo extremamente alto.
  • As informações são do Jornal da USP.
A raiva é transmitida pela saliva de animais infectados, por meio de mordidas e lambidas (Imagem: Mangpor_nk/Shutterstock)

Doença pode levar à morte

Todos os anos, ao menos 59 mil pessoas morrem por raiva no mundo, sendo a maior parte na África e na Ásia. No Brasil, foram diagnosticados dois casos em 2023, um no Ceará e outro em Minas Gerais.

A doença é transmitida pela saliva de animais infectados, por meio de mordidas e lambidas. A raiva humana tem 100% de letalidade e pode ter uma incubação de algumas semanas até alguns meses.

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Os primeiros sinais incluem febre e dor de cabeça, que evoluem para dificuldade de deglutição, de onde deriva o termo hidrofobia. Em outras palavras, o paciente, ao não conseguir beber por apresentar contrações na musculatura da laringe, dá a impressão de ter medo de água.

A doença evolui para alterações de comportamento, com aumento da agressividade, alucinações, paralisia, disfunção geral e morte por parada cardiorrespiratória em cerca de uma semana após os primeiros sinais. É uma doença terrível, não só pelo extenso sofrimento experimentado pelo paciente, mas também ao pessoal médico e aos familiares, que presenciam a rápida degeneração da pessoa acometida rumo a morte certa.

Paulo Eduardo Brandão, professor da USP e coordenador do estudo

O professor explica que grande parte do sucesso do vírus da raiva está na sua capacidade de desligar o sistema imune no sistema nervoso da pessoa infectada. É nessa parte que o vírus causa a maioria dos danos no organismo do paciente.

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O Hiltonol é exatamente um composto com RNA sintético de fita dupla que faz com que as células se encham de interferon. Rapidamente desenhamos um experimento com este medicamento e o que vimos em camundongos rábicos foi que o período desde a inoculação viral até os primeiros sinais se estendeu, bem como o tempo de sobrevivência destes animais quando comparados aos camundongos tratados com placebo.

Paulo Eduardo Brandão, professor da USP e coordenador do estudo

Brandão destaca que desde a publicação dos resultados do estudo com o medicamento já foram realizadas modificações no protocolo de tratamento que levaram não só a menor letalidade, o que garantiu a sobrevivência dos animais testados, mas também a regressão dos sinais de raiva.