O El Niño foi protagonista em 2023: o fenômeno que aqueceu as águas do Oceano Pacífico provocou ondas de calor no Brasil e causou incêndios, inundações e alteração do esquema de chuvas ao redor do mundo. Apesar de ele acontecer naturalmente durante meses seguidos a cada dois a sete anos, especialistas acreditam que as mudanças climáticas tenham o intensificado.

No Brasil, as temperaturas elevadas quebraram recordes e foram sentidas durante o mês de novembro. Ao redor do continente, as alterações climáticas estão ameaçando espécies e provocando surtos de vírus.

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O The Washington Post fez um compilado de cinco consequências do El Niño preocupantes na América Latina, incluindo aumento nos casos de dengue e a morte em massa de uma espécie nativa brasileira, o boto-cor-de-rosa.

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Dengue no Peru

  • O El Niño pode ser o culpado por surto de casos de dengue no Peru;
  • O aumento das chuvas no país pode estar associado ao crescimento da população de mosquitos, que colocam seus ovos em locais úmidos, na água parada;
  • Segundo o jornal, foram mais de 270 mil casos reportados no ano passado, sobrecarregando hospitais da região. 381 mortes foram registradas;
  • Com as temperaturas voltando a ficar mais altas que o normal, há preocupação com as condições propícias para a reprodução dos mosquitos e transmissão da dengue;
  • De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, na sexta-feira passada (16), os casos aumentaram em 53% este ano, coincidindo com as ondas de calor do El Niño.

Mosquito Aedes aegypti
Imagem: Pexels

Seca e inundação na Bolívia

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários já havia afirmado em outubro que a Bolívia estava passando por crise desencadeada pela crise climática e pelo El Niño.

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Começou com onda de calor e seca. Depois, as chuvas aumentaram, causando inundações no solo, que não estavam prontos para receber tamanha umidade. Pelo menos duas pessoas morreram em enchentes e outras centenas perderam as casas.

O Programa Alimentar Mundial ainda disse que alguns grupos demográficos no país, como grupos indígenas ou mulheres em áreas rurais, estavam mais sujeitos aos efeitos das mudanças climáticas.

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Espécie ameaçada na Colômbia

O clima dos Andes colombianos normalmente é fresco e úmido. Isso possibilita o desenvolvimento de uma planta chamada frailejón (ou Espeletia), espécie que cresce em altitudes e pode levar décadas para chegar à idade adulta. Quando o faz, transforma o vapor do ar em água e a usa para abastecer o solo local.

Ela já corria risco devido à agricultura no local. Como consequência do El Niño, o aumento da temperatura causou incêndios em partes da Colômbia, que colocam a espécie, essencial para o solo, ainda mais em risco.

Espeletia ou frailejón nos Andes (Imagem: Ecuadorpostales/Shutterstock)

Morte de espécie na Amazônia brasileira

Mais de 150 botos-cor-de-rosa foram encontrados mortos no Rio Tefé, na Amazônia. O motivo pode ser o aquecimento anormal das águas do rio, que chegaram a 38 °C.

Segundo Claudia Sacramento, analista ambiental do Instituto Chico Mendes, a água quente desorienta os botos e a perda de oxigênio os sufoca.

Cientistas dizem que a causa ainda não é clara, mas que as condições extremas, como o calor e a seca do El Niño, provavelmente são os culpados. No entanto, ele não é o único: o aumento da temperatura dos rios não é de hoje e é consequência do aquecimento global como um todo.

Incêndios no Chile

Incêndios no Chile mataram pelo menos 131 pessoas em fevereiro. O presidente Gabriel Boric declarou estado de emergência e período de luto.

Há suspeitas de que alguns dos incêndios tenham sido criminosos, mas a hipótese principal é que a causa tenha sido o calor e a seca do El Niño, que criam cenário ideal para as chamas se espalharem rapidamente.