As cobras estão na lista dos animais mais temidos do mundo. O cinema já colocou o réptil no papel de vilão inúmeras vezes. São registrados milhares de acidentes todos os meses. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que as serpentes peçonhentas matem entre 81 mil e 138 mil pessoas por ano, em média.

Apesar desses números expressivos, é preciso entender que as cobras não são más nem atacam humanos. Os acidentes estão relacionados, muitas vezes, à invasão do habitát natural delas. Sim, nós humanos é que estamos atrapalhando os bichinhos. Eles só reagem. E a maioria das cobras nem venenosas são.

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É importante destacar também que a maioria das mortes ocorre pela falta de efetividade no tratamento das picadas. O soro antiofídico é feito a partir do veneno da própria espécie que te picou. Como muitas vítimas não sabem identificar as espécies, a pessoa chega no hospital e não recebe o antídoto adequado.

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Essa limitação da Medicina, porém, pode acabar em breve. Um extenso grupo de cientistas avançou nos testes de um antiveneno universal para picadas de cobras.

O trabalho consta na revista Science Translational Medicine.

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Como os cientistas chegaram a esse antídoto?

Antes de falar sobre o antiveneno, é preciso explicar que as cobras peçonhentas possuem diferentes tipos de toxinas: as que atacam o sistema neurológico, as que atacam o nosso sangue e aqueles que destroem a pele e os ossos.

A nova pesquisa tratou apenas das neurotoxinas, que estão presentes em algumas das cobras mais mortíferas do mundo, incluindo a mamba negra africana, a cobra monóculo asiática e a cobra-rei.

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A mamba negra é uma das espécies mais venenosas do mundo – Imagem: Cormac Price/Shutterstock

Os cientistas desenvolveram uma espécie de anticorpo no laboratório e o batizaram de 95Mat5. Ele foi descoberto após a análise de mais de 50 bilhões de anticorpos únicos – isso para encontrar aqueles capazes não só de reconhecer a neurotoxina nos venenos de muitas espécies, mas também de neutralizar os seus efeitos mortais.

Quando injetado em camundongos que receberam doses letais de veneno, o 95Mat5 foi capaz de prevenir a paralisia e a morte em todos os venenos testados.

Os resultados foram animadores, mas, como eu já disse, os testes ainda estão em fase inicial, sendo realizados em camundongos. Além disso, os cientistas esperam encontrar novas substâncias que possam neutralizar também as hemotoxinas e as citotoxinas, para chegar a um antídoto universal realmente.

Produção das doses

Os pesquisadores também esbarram em outro problema: o preço. Os anticorpos produzidos em laboratório estão entre os medicamentos mais caros do planeta. E o soro antiofídico precisaria ser produzido em larga escala – para muitas vezes ser aplicado em pessoas pobres, que moram em regiões rurais (e que não tem dinheiro para bancar essa produção).

Isso não tira a esperança dos cientistas, que destacam agora ser possivel encontrar um caminho para resolver esse problema tão comum.

Eles também destacam que a forma de produção dos anticorpos é menos nociva ao ser humano do que a praticada atualmente.

Soro produzido pela Instituto Butantan, em São Paulo – Imagem: Comunicação/Instituto Butantan

Hoje, segundo informações do Instituto Butantan, é preciso:

  • Primeiro, extrair da serpente o veneno e transformá-lo em antígeno, ou seja, uma substância capaz de fazer o sistema imunológico reagir, produzindo anticorpos.
  • Depois, esses antígenos são aplicados em cavalos, em pequenas doses que não prejudicam a saúde do animal.
  • Quando se formam anticorpos suficientes no organismo do cavalo, o plasma (a parte do sangue onde ficam os anticorpos) é coletado.
  • Após testes, o plasma é submetido a um processamento industrial, chegando ao resultado final do soro antiofídico.

De acordo com os cientistas desse novo estudo, o anticorpo produzido em laboratório será mais potente e menos nocivo ao organismo humano, uma vez que não virá do cavalo.

O problema agora é dinheiro.

As informações são do Science Alert.