Uma pesquisa brasileira descobriu que a substância que dá o gosto amargo à cerveja pode ajudar a combater os vírus da chikungunya e de outra doença com sintomas semelhantes, o oropouche. O composto foi encontrado na flor do lúpulo (Humulus lupulus L.), planta utilizada na fabricação da bebida.

Os achados do estudo, conduzido por uma pós-doutorada da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, foram publicados na MDPI.

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Amargor da cerveja faz mal aos vírus

  • Um componente do lúpulo, que dá o amargor à cerveja, tem potencial de combater dois vírus transmitidos por mosquitos que causa a chikungunya e o oropouche.
  • Foi durante testes com células de mamíferos em laboratório que os cientistas encontraram os acilfloroglucinois, gerados pelo metabolismo da planta, e também descobriram seu poder de inibir a proliferação das doenças.
  • As hipóteses sobre como isso acontece incluem a capacidade desse composto de interagir com proteínas virais, impedindo sua replicação.
  • Além disso, ativam uma enzima chamada proteína quinase C, que desempenha um papel fundamental nas células.
  • Essa descoberta pode ser um caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos antivirais contra essas doenças.

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A planta é a única com esse composto

Tsvetelina Mandova, que conduziu a pesquisa, conta ao Jornal da USP que a escolha de testar o lúpulo contra vírus seguiu duas estratégias principais: usar uma planta comum ou endêmica para tratar doenças locais ou, inversamente, testar uma planta não nativa da região, como o lúpulo do Brasil.

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A segunda estratégia, embora mais complexa, provou ser eficaz, já que os acilfloroglucinois são comuns em outras plantas, mas os tipos alfa e beta ácidos, que mostraram os melhores resultados, são exclusivos do lúpulo.

O composto vai se tornar um medicamento?

A pesquisadora explica que, apesar dos resultados com o composto serem promissores, ainda há desafios a serem enfrentados até que ele possa se tornar um medicamento.

Para que uma molécula que exerce uma atividade biológica, neste caso antiviral, se torne um medicamento, o caminho é longo e repleto de muitos obstáculos a serem superados.

Tsvetelina Mandova para o Jornal da USP