Dispositivo permite detectar gota, câncer e até Parkinson sem sair de casa

Autoteste de urina que mede indicadores da presença ou progressão de uma doença pode ser conectado ao celular via Bluetooth
Por Nayra Teles, editado por Lucas Soares 22/03/2024 03h00
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Imagem: cedida pelo pesquisador Paulo Raymundo Pereira da USP para a Agência FAPESP.
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Um novo dispositivo vai facilitar a vida de pessoas que precisam monitorar determinadas condições de saúde. Desenvolvido por pesquisadores brasileiros, o sensor permite medir biomarcadores de doenças como a gota, câncer e o Parkinson sem sair de casa. As informações do teste são exibidas diretamente na tela do celular.

O estudo que criou a tecnologia foi conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), com o apoio da FAPESP, e divulgado na revista Chemical Engineering Journal.

Como funciona?

  • O aparelho sem fio tem uma tira de sensor flexível com eletrodos que, aliados a um analisador portátil, podem medir substâncias presentes na urina.
  • Essas substâncias são indicadores da presença de alguma doença no organismo, e também evidenciam a sua progressão.
  • Os resultados podem ser lidos em cerca de 3 minutos depois da urina ser depositada no sensor por um dispositivo móvel (smartphone, laptop ou tablet) via conexão Bluetooth.
  • A tecnologia teve um custo de produção de menos de $0,50, tornando-a acessível. Além disso, é feita de um material biodegradável.

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Imagem; gerada por IA/Shutterstock/Nayra Teles

Que doenças pode detectar?

Em experimentos, os pesquisadores utilizaram o autoteste para medir níveis de ácido úrico e dopamina presentes na urina. A primeira substância tem sido associada a doenças como a síndrome de Fanconi, gota, câncer, síndrome de Lesch-Nyhan e disfunção renal, além de estresse físico e riscos elevados de diabetes tipo 2.

Já a presença da segunda, conhecida como o neurotransmissor da felicidade, em níveis anormais, pode indicar distúrbios neurológicos e psiquiátricos, incluindo esquizofrenia, depressão, vício, doença de Alzheimer e Parkinson.

Os testes tiveram um desempenho de detecção semelhante ao método de medição padrão-ouro, comumente usado em laboratórios de análises clínicas.

Material sustentável

Diferente dos dispositivos eletrônicos de detecção disponíveis atualmente, que são feitos de plástico, o novo sensor utiliza filmes biodegradáveis de poliácido lático (PLA). O material é um poliéster biodegradável, reciclável e compostável, derivado do ácido lático e produzido a partir de recursos naturais renováveis.

Essa característica foi pensada para cumprir os requisitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU na Agenda 2030. Nos Estados Unidos, o PLA já possui aprovação da Food and Drug Administration (FDA) para várias aplicações biomédicas.

Até onde sabemos, o bioplástico de PLA ainda não tinha sido usado como substrato ou suporte para fabricação de sensores e biossensores descartáveis. Nosso estudo demonstrou o primeiro exemplo de uma tira de sensor sustentável integrada com analisador sem fio portátil para autoteste rápido

Raymundo-Pereira, pesquisador do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP), para a Agência FAPESP.
Nayra Teles
Redator(a)

Nayra Teles é estudante de jornalismo na Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e redatora no Olhar Digital

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.