Pesquisadores colocam IAs para ‘conversar’ – e isso pode mudar tudo

Estudo desenvolveu IA capaz de realizar tarefas a partir de instruções verbais e textuais e transmitir conhecimento a outra IA em "conversa"
Pedro Spadoni22/03/2024 10h22, atualizada em 22/03/2024 21h13
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Pesquisadores da Universidade de Genebra (Unige) colocaram duas IAs para “conversarem” entre si. No estudo, eles modelaram uma rede neural artificial capaz de realizar tarefas a partir de instruções verbais e textuais que forneceu uma descrição dessas tarefas para outra inteligência artificial (IA). Esta, por sua vez, conseguiu replicá-las.

Para quem tem pressa:

  • Pesquisadores da Universidade de Genebra (Unige) desenvolveram uma rede neural artificial que consegue realizar tarefas a partir de instruções verbais e textuais e transmitir esse conhecimento a outra IA. Essa “conversa” é um avanço significativo no campo da inteligência artificial (IA);
  • O experimento superou a barreira de traduzir instruções em ações sensório-motoras e explicá-las para outra IA, usando um modelo de 300 milhões de “neurônios” para facilitar a compreensão e produção de linguagem;
  • Uma IA foi capaz de aprender uma tarefa e ensiná-la a outra, demonstrando interação linguística e capacidade cognitiva avançada. Isso replica funções cerebrais humanas como as áreas de Wernicke (interpreta linguagem) e Broca (articula palavras);
  • Este progresso na área de IA reforça a visão de especialistas como Sam Altman, CEO da OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT, sobre o potencial iminente da inteligência artificial geral.

O experimento, publicado na revista Nature Neuroscience, teve como objetivo testar capacidades cognitivas tipicamente humanas nas IAs, por exemplo: habilidade de aprender algo e transmitir esse conhecimento para outro indivíduo. Essa complexidade cognitiva, até então, era considerada inalcançável para máquinas, segundo Alexandre Pouget, professor da Unige.

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‘Conversa’ entre IAs

Ilustração de silhueta de pessoa com chip no lugar do cérebro para representar conceito de inteligência artificial
(Imagem: Pedro Spadoni via DALL-E/Olhar Digital)

Pouget destacou que, apesar dos avanços em IA, ainda não havia sido possível para essas tecnologias traduzir instruções em ações sensório-motoras e, subsequentemente, explicá-las para que outra IA pudesse executar a mesma tarefa. A pesquisa recente superou essa barreira, desenvolvendo um modelo de neurônios artificiais com essa capacidade dupla.

O processo envolveu o uso de um modelo existente chamado S-Bert, com 300 milhões de “neurônios”, que foi conectado a uma rede neural mais simples para facilitar o aprendizado e a comunicação. Este sistema foi treinado para compreender e produzir linguagem, imitando funções cerebrais humanas.

Os neurocientistas focaram em replicar digitalmente a área de Wernicke, que interpreta linguagem, e a área de Broca, que articula palavras, por meio do treinamento das redes neurais. Foi isso que viabilizou a “conversa” entre as IAs.

Resultado da pesquisa

Ilustração de cérebro humano com diversas formas de conteúdo em holograma para representar conceito de inteligência artificial
(Imagem: Pedro Spadoni via DALL-E/Olhar Digital)

Como resultado, uma IA aprendeu uma ação e foi capaz de ensiná-la à segunda IA, por meio de computadores convencionais e textos em inglês. Isso demonstra um novo nível de interação linguística entre as inteligências artificiais.

Essa capacidade de uma IA descrever tarefas para outra, permitindo sua reprodução, é um marco. Esta pode ser a primeira vez que duas IAs conseguem se comunicar dessa maneira, destacou Pouget.

O progresso na área de IA reforça a visão de especialistas como Sam Altman, CEO da OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT, sobre o potencial iminente da inteligência artificial geral. Isso sugere que avanços significativos na comunicação e cognição de máquinas podem ser alcançados em breve. Ou melhor: em parte, já foram.

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.