As quase 8 horas de O Problema dos 3 Corpos, da Netflix, me deixaram pensativo. Todos aqueles conceitos de Física e as ideias de tecnologia avançada confirmaram algo que sempre tive para mim: somos realmente insetos em relação ao universo, à vida e à existência como um todo.

Nada contra os insetos – eles desempenham, aliás, um papel central em quase todos os ecossistemas que conhecemos. Mas eles são pequenos perante o mundo. A filosofia existe há poucos milhares de anos e tenta nos ajudar a entender – ou aceitar – nosso papel em tudo isso.

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E uma das grandes questões da vida é justamente o fim dela. O homem, no geral, ou tenta entender a morte ou tenta superá-la. Em O Problema dos 3 Corpos, é oferecida a um personagem com câncer avançado a possibilidade de passar por uma criogenia, ou seja, um processo que “congelaria” o corpo para que fosse ressuscitado no futuro, apostando em uma cura para a doença. Bom, essa não é a história exata da série, mas não posso falar muita coisa para não dar spoilers.

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Os oito episódios da série O Problema dos 3 Corpos estão disponíveis na Netflix – Imagem: Divulgação/Netflix

Agora, voltando para a criogenia, ou criopreservação, ou bioestase. Será que ela realmente funciona na vida real? O Olhar Digital explica agora para você.

Criogenia não é congelamento

  • A criogenia existe, sim, e utiliza um processo chamado “vitrificação” para atingir um estado que se assemelha ao vidro, interrompendo a degradação do organismo.
  • Não podemos falar em congelamento por conceitos físicos e biológicos.
  • Cerca de 70% do corpo humano é formado por água.
  • E quando essa água congela, ela se expande, aumenta de massa, virando gelo.
  • Imagine isso em nosso corpo: sim, o processo nos mataria ao estourar nossas células e tecidos.
  • Agora, apesar de existir, essa “vitrificação” é feita apenas em células, tecidos e alguns órgãos – como os embriões congelados que dão origem a bebês.
  • Mas não há registro nenhum na ciência de uma bioestase que tenha funcionado em algum mamífero ou ser humano vivo.
  • E isso acontece por um simples motivo: a parte da reanimação ainda não funciona…

Empresas já oferecem o serviço

Em artigo, o biólogo Venki Ramakrishnan, vencedor do Prêmio Nobel de Química de 2009, destaca que a nossa espécie trabalha com conceitos de preservação do corpo humano há muito tempo. Os egípcios, por exemplo, mumificavam seus faraós para que retornassem depois – neste plano ou em outro.

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A ideia da criogenia é muito parecida, mas com mais elementos de ciência e menos de religião. Se naquela época apenas os faraós tinham esse “direito”, agora a bioestase é um assunto para pessoas extremamente ricas.

Em 1976, Robert Ettinger, um professor da Universidade de Michigan, fundou o Instituto Cryonics, perto de Detroit, e convenceu mais de 100 pessoas a pagar US$ 28 mil cada para ter seus corpos preservados em nitrogênio líquido em grandes recipientes. Anos depois, ele congelou a mãe, as duas mulheres e ele mesmo, quando faleceu aos 92 anos.

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A criogenia te coloca dentro de um recipiente com nitrogênio – Imagem: UMPOL CHINHANGOR/Shutterstock

Também nos Estados Unidos, a Alcor Life Extension Foundation, com sede em Scottsdale, Arizona, cobra cerca de US$ 200 mil pelo armazenamento do corpo inteiro. Existem ainda empresas que oferecem o serviço na Europa, ao custo de € 200 mil.

Vale destacar que todas essas pessoas realizaram o procedimento sem a certeza de que ressuscitarão de fato um dia. Foi uma aposta. Assim como fizeram em O Problema dos 3 Corpos.

Por que elas fizeram isso?

Aí entra a Filosofia de novo. E uma boa dose de fé. Talvez o medo da morte. Ou a crença de que a ciência vai resolver os problemas – que são muitos.

Há diversos desafios a serem superados ainda:

  • como muitos são “congelados” depois de mortos, como você vai reanimar um sistema que já tinha parado de funcionar antes?
  • nesse caso, valeria mais a pena, cientificamente falando, “congelar” alguém com 25 anos e não com 90 – mas aí a pessoa de 25 abriria mão da vida dela?
  • se der certo um dia, o que fazer ao “acordar” décadas depois, sem seus entes queridos e numa sociedade completamente diferente da que você conhecia?
  • a parte médica propriamente dita também traz uma série de questões…
  • durante o processo, há um risco alto de danos isquêmicos (com o comprometimento da irrigação sanguínea);
  • além disso, o estresse térmico depois do resfriamento pode destruir os vasos sanguíneos.
  • e vamos supor que haja algum problema durante a ressuscitação… Quem responde por danos no armazenamento dos indivíduos?

Essas são apenas algumas indagações. Cabem várias outras. Como já disse em outros textos aqui do Olhar Digital, eu sempre apoiarei a ciência. Mas é importante que as pessoas saibam diferenciar o que é real e o que é ficção.

As informações são do Live Science.