Além de fracassadas, anãs marrons também são ruins de relacionamento

A partir de observações do Hubble, percebeu-se que quando estão em sistemas binários, as anãs marrons tendem a se separarem
Por Mateus Dias, editado por Lucas Soares 27/03/2024 08h33, atualizada em 27/03/2024 21h07
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As anãs marrons são conhecidas como estrelas fracassadas. Parece triste né? Pois saiba que os adjetivos negativos desse grupo podem não ter acabado. Uma nova pesquisa apontou que elas também fazem parte do grupo das estrelas solitárias. Mesmo que em algum momento elas tenham tido uma companheira, elas não conseguem manter uma relação duradoura.

Para quem tem pressa:

  • Um estudo anterior havia observado anãs marrons jovens e encontrado sistemas binários desses objetos;
  • No entanto, são poucos os casos de estrelas fracassadas em pares, mas agora uma nova pesquisa apresenta um porquê;
  • A hipótese é que os pares desses objetos eventualmente se separam ao longo de milhões de anos, provavelmente devido à influência gravitacional de algo mais massivo.

Essas estrelas fracassadas se formam praticamente da mesma forma que as estrelas da sequência principal. No entanto, elas não são massivas o suficiente para realizar a fusão de átomos de hidrogênio em hélio. Acredita-se que frequentemente elas surjam em pares binários, mas poucas duplas de anãs marrons foram detectadas.

Representação gráfica de uma anã marrom – um objeto quente e massivo que confunde as fronteiras entre o que é planeta e o que é estrela – em um sistema estelar a 1.400 anos-luz da Terra. Crédito: NASA Goddard

Agora em uma nova pesquisa publicada na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, um grupo de cientistas talvez tenha descoberto o porquê disso acontecer.

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A partir de observações do Telescópio Espacial Hubble, os pesquisadores descobriram que quanto mais velha seja a anã marrom, maiores as chances dela ser sozinha. Isso porque a força gravitacional que liga pares desses objetos é tão fraca, que os dois corpos separam-se centenas de milhões de anos depois. Acredita-se que a separação se dá provavelmente quando qualquer outra estrela mais forte gravitacionalmente passa pelo casal de estrelas fracassadas.

Isto sugere que tais sistemas não sobrevivem ao longo do tempo. Quando são jovens, fazem parte de uma nuvem molecular e, à medida que envelhecem, a nuvem dispersa-se. À medida que isso acontece, as coisas começam a se mover e as estrelas passam um pelo outro. Como as anãs marrons são tão leves, a força gravitacional que une pares binários largos é muito fraca, e contornar estrelas pode facilmente separar esses binários.

Clémence Fontanive, autor principal da pesquisa, em comunicado
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Imagem: Ilustração de como é a estrela anã marrom. Créditos: Diego Barucco/Shutterstock

Um estudo anterior conduzido por Fontanive e colegas há vários anos também concentrou-se em observar esses objetos. A partir de dados do Hubble, a investigação estudou anãs marrons jovens e alguns sistemas binários foram encontrados. A hipótese era de que as estrelas fracassadas poderiam existir em pares, mas ao longo de sua vida elas teriam que lutar para ficarem ligadas gravitacionalmente por longos períodos.

A partir da nova pesquisa, os cientistas endossam ainda mais essa hipótese.

A maioria das estrelas tem amigos — sejam eles companheiros binários ou exoplanetas. Esta pesquisa demonstra realmente que o mesmo não se aplica às anãs marrons. Após um breve período no início da sua vida, a maioria das anãs marrons permanece solteira durante o resto da sua longa existência.

Beth Biller, membro da equipe
Redator(a)

Mateus Dias é estudante de jornalismo pela Universidade de São Paulo. Atualmente é redator de Ciência e Espaço do Olhar Digital

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.