Como essa planta indígena pode ser usada no tratamento contra doença viral?

Apesar dos resultados promissores, ainda não se sabe como a replicação do vírus zika é inibida, o que exige novos estudos
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 27/03/2024 01h40, atualizada em 01/04/2024 10h47
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Imagem: Marilia de Freitas Calmon/Unesp
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Uma nanoemulsão de óleo de copaíba (Copaifera officinalis), planta usada por indígenas da região amazônica para tratar doenças de pele, pode ser uma aliada no combate ao vírus zika, como noticiado pelo Olhar Digital. Testes in vitro realizados por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) apontaram um potencial efeito antiviral da substância. Mas como isso pode funcionar?

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Vírus da Zika ampliado
Vírus zika (Imagem: Wikimedia Commons)

Novos estudos são necessários para comprovar eficácia

Durante o estudo, publicado na revista PLOS ONE, ensaios confirmaram a estabilidade das nanoemulsões por 60 dias, quando armazenadas a 4° C. Além disso, foi identificada a capacidade delas serem internalizadas pelas células infectadas pelo vírus.

Na sequência, foram feitos tratamentos simultâneos com a nanoemulsão a uma concentração máxima não tóxica de 180 microgramas por mililitro (μg/mL). Os resultados foram comparados com os de outra formulação sem o óleo de copaíba.

Foi observada uma inibição viral de 80% para a versão com o óleo e de 70% para a versão sem, ou seja, tanto a estrutura da nanoemulsão quanto sua associação com o óleo apresentaram a atividade. Os pesquisadores também confirmaram que maiores concentrações da substância têm capacidade de inibição nos níveis de RNA viral.

Além de indicar caminhos para o desenvolvimento de terapias para uma doença negligenciada, é importante ressaltar que se trata de um óleo natural – e usado em pequena quantidade, o que poderia facilitar o desenvolvimento de um futuro fármaco.

Marilia de Freitas Calmon, pesquisadora do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Unesp

Apesar dos resultados promissores, novos estudos são necessários. Isso porque a nanoemulsão sem óleo também apresentou atividade antiviral, sugerindo a possibilidade de parte do efeito estar relacionada à composição da lecitina do ovo (principalmente fosfatidilcolina) presente na estrutura da nanoemulsão. Outros estudos já demonstraram, inclusive, capacidade inibitória de nanoemulsão lipídica derivada de alimentos naturais.

Além disso, faltam detalhes sobre como a replicação do vírus zika é inibida. As informações são da Agência FAPESP.

Mosquito Aedes aegypti
Zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti (Imagem: Pexels)

Zika

  • O Brasil é um dos países mais afetados pelo vírus zika.
  • Foram mais de 250 mil casos suspeitos da doença em 2016.
  • Embora nenhuma morte tenha sido registrada em 2024, os casos prováveis aumentaram cerca de 16% nos três primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado.
  • A doença é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue e da chikungunya.
  • Mas no caso do zika, ela pode causar uma síndrome congênita que inclui alterações visuais, auditivas e neuropsicomotoras em bebês.
  • Já nos adultos pode provocar transtornos neurológicos, como a síndrome de Guillain-Barré.
  • Até o momento, não há vacinas ou tratamentos para a infecção.
  • As autoridades recomendam que, em caso de sintomas como febre abrupta, dor de cabeça, atrás dos olhos, nas articulações e no corpo, náuseas, vômitos e dores abdominais, além de coceira e manchas vermelhas na pele, o paciente procure um atendimento médico imediatamente.
Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.