Os ataques cibernéticos direcionados aos Jogos Olímpicos não são novidade. Diferentes países que sediaram o evento tiveram que enfrentar uma enxurrada de invasões digitais durante sua realização. Não será diferente na França, que, além disso, também terá que lidar com uma ameaça ainda mais complexa: a inteligência artificial.

A segurança dos Jogos de Paris, que acontecem em julho, ficará a cargo da agência de segurança de sistemas de informação francesa (Anssi) e do Ministério do Interior, com o apoio do braço de defesa cibernética do Ministério da Defesa (Comcyber).

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Em conversa com a AFP, Vincent Strubel, diretor-geral da Anssi, afirmou que os órgãos estão preparados para conter as ameaças e ainda terão tempo para se adequar a outros imprevistos. No entanto, um alto oficial militar francês disse que os recursos ainda são poucos frente ao tamanho do risco.

Ameaça cibernética durante as Olimpíadas

  • Em 2021, os Jogos Olímpicos de Tóquio enfrentaram cerca de 450 milhões de ataques cibernéticos individuais, o dobro da edição de 2012. Na vez de Paris, a situação é agravada pela IA.
  • Esta é a primeira edição que acontece na era da IA. A tecnologia deve ser usada para apoiar a segurança, mas também será usada pelo outro lado. Ou seja, o risco é maior.
  • Vincent Strubel explica que, no pior dos cenários, os órgãos franceses podem se afogar em ataques menos perigosos e deixar a porta aberta para grandes ameaças.
  • Os ataques podem afetar não só o funcionamento local, mas também os sistemas de transporte, elétricos, de água, as redes telefônicas e os meios de comunicação.
  • O crime pode ser praticado por grupos criminosos, territórios com interesses políticos, “hacktivistas” e até mesmo atletas.

IA nos Jogos Olímpicos

A era da IA trouxe maravilhas tecnológicas, mas também ameaças em igual proporção. No contexto dos jogos, John Hultquist, analista da Mandiant Consulting, diz à AFP que o maior risco é a interrupção das infraestruturas da transmissão. “Você pode literalmente ter um efeito no jogo em si ou na capacidade do mundo de ver os Jogos. Se ninguém pode vê-los, é tão bom quanto os derrubar”, explica ele.

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Os ataques não precisam ficar restritos aos espaços físicos das competições. Com a IA, é possível ir além, disseminando vídeos falsos, por exemplo. “[Estamos] numa nova era onde será mais fácil afetar a integridade do esporte graças à IA”, diz Betsy Cooper, especialista em segurança cibernética do Aspen Institute nos EUA, para a AFP.

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Uma das soluções recomendadas pela especialista pode ser antiquada, mas funciona: o papel. Anotar os resultados dos jogos em algo físico garante a integridade dos jogos com um “backup” de segurança que está livre dos ataques digitais.

Tensões geopolíticas

As tensões geopolíticas também são um fator que pode impactar as Olimpíadas. A Rússia é uma das principais nações suspeitas de ataques digitais. O país não tem uma boa relação com o Comitê Olímpico Internacional (COI) e inclusive os atletas russos foram proibidos de competir sob sua bandeira em 2018.

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A Rússia esteve envolvida em várias polêmicas, incluindo alegações de ciberataques, como o caso em que o grupo de hackers russo “Fancy Bears” tentou atacar os sistemas informáticos de agências antidoping em 2019.

Além disso, os serviços de inteligência militar russos foram responsabilizados pelos Estados Unidos pelo lançamento do malware “Destruidor Olímpico” pouco antes dos Jogos de Inverno de Pyeongchang em 2018, dos quais os atletas russos foram banidos.

Recentemente, o Kremlin denunciou as acusações do presidente Emmanuel Macron de que Moscou estaria divulgando informações para sugerir que Paris não estava preparada para os Jogos Olímpicos, considerando tais alegações como “infundadas”.