Um artigo publicado quarta-feira (17) na revista Nature aponta que as mudanças climáticas causadas pelas emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera vão diminuir o produto interno bruto (PIB) mundial em cerca de US$38 trilhões (R$199 trilhões, em conversão direta na cotação atual) – o que representa uma queda de aproximadamente 20%.

Para quem tem pressa:

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  • Pesquisadores alemães calcularam os impactos econômicos das mudanças climáticas;
  • O estudo descobriu que o PIB global sofrerá uma redução de 20% até 2050;
  • Depois disso, gradativamente, as consequências econômicas das mudanças climáticas podem ser dezenas de trilhões de dólares mais altas por ano até 2100;
  • Isso se a Terra aquecer mais de 2ºC acima dos níveis pré-industriais;
  • A temperatura média do planeta já está 1,2ºC superior a essa referência;
  • Países menos responsáveis pelas mudanças climáticas terão uma perda de renda 60% maior do que os países de renda mais alta e 40% maior do que os países de maior emissão.

Embora, segundo os pesquisadores, isso vá acontecer independentemente do quanto a humanidade se esforce para reduzir a poluição de carbono, a diminuição das emissões de gases de efeito estufa o mais rápido possível continua sendo crucial para evitar impactos econômicos ainda mais devastadores após a metade do século.

Temperatura global está 1,2ºC acima dos níveis pré-industriais

A pesquisa mostra que as consequências econômicas das mudanças climáticas podem ser dezenas de trilhões de dólares mais altas por ano até 2100 se a Terra aquecer significativamente além de 2ºC acima dos níveis da Revolução Industrial do século 19.

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A temperatura média da superfície do planeta já subiu 1,2°C acima dessa referência, o suficiente para amplificar ondas de calor, secas, inundações e tempestades tropicais tornadas mais destrutivas pela elevação dos mares.

Aquecimento global vai afetar economicamente de forma mais negativa os países mais pobres, que causam menos emissões. Crédito: Quality Stock Arts – Shutterstock

Segundo o estudo, o investimento anual necessário para limitar o aquecimento global abaixo de 2°C (principal meta do Acordo de Paris de 2015) é uma pequena fração dos danos que seriam evitados.

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“Ficar abaixo dessa marca poderia limitar a perda média de renda regional a 20% em comparação com 60%” em um cenário de altas emissões”, disse o principal autor do estudo, Max Kotz, especialista em ciência da complexidade do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático (PIK), na Alemanha, em entrevista à AFP.

Economistas divergem entre si sobre quanto deve ser gasto para evitar danos climáticos. Alguns pedem investimentos pesados agora, enquanto outros argumentam que seria melhor esperar até que as sociedades sejam mais ricas e a tecnologia mais avançada.

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Embora a nova pesquisa não entre no âmbito desse debate, sua estimativa de impactos econômicos ajuda a defender ações ambiciosas de curto prazo. “Nossos cálculos são super relevantes para essas análises de custo-benefício”, disse a coautora Leonie Wenz, também pesquisadora do PIK.

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Países menos responsáveis pelas mudanças climáticas serão os mais afetados

Segundo Wenz, esses cálculos também podem fornecer estratégias governamentais de adaptação aos impactos climáticos, avaliações de risco para empresas e negociações lideradas pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre compensação para países em desenvolvimento que mal contribuíram para o aquecimento global. Principalmente as nações tropicais – muitas com economias já encolhendo devido aos danos climáticos – serão as mais atingidas.

De acordo com o estudo, os países menos responsáveis pelas mudanças climáticas sofrerão uma perda de renda 60% maior do que os países de renda mais alta e 40% maior do que os países de maior emissão. Essas nações também são as que têm menos recursos para se adaptar aos impactos.

No entanto, países ricos também não serão poupados: Alemanha e EUA devem ver a renda diminuir em 11% até 2050, e a França, em 13%.

Essas projeções são baseadas em quatro décadas de dados econômicos e climáticos de 1.600 regiões e incluem danos ignorados por estudos anteriores, como chuvas extremas.

Também foram analisadas as flutuações de temperatura dentro de cada ano, em vez de apenas médias, bem como o impacto econômico de eventos climáticos extremos além do ano em que ocorreram.

“Ao contabilizar essas variáveis climáticas adicionais, os danos são cerca de 50% maiores do que se fôssemos incluir apenas mudanças nas temperaturas médias anuais, a base da maioria das estimativas anteriores”, disse Wenz.