Um artigo publicado nesta segunda-feira (22) no periódico científico Cambridge Archaeological Journal descreve uma teoria sobre pinturas da Idade da Pedra nas paredes de cavernas em toda a Europa, África e Australásia que aflora um debate feroz. 

Pesquisadores propõem que alguns dos exemplos mais icônicos da arte rupestre são, na verdade, calendários lunares, marcados pelo sistema de escrita mais antigo conhecido do mundo, mas o novo estudo contesta essas afirmações.

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Apresentada em janeiro de 2023, a primeira hipótese se concentra na arte rupestre europeia do Paleolítico Superior, a maioria criada entre 45 mil e 12 mil anos atrás. Observando que esses desenhos normalmente apresentam animais acompanhados de marcas abstratas como pontos ou linhas verticais, a equipe de pesquisadores sugeriu que esses símbolos representassem dias ou meses no calendário lunar.

Para sustentar essa afirmação, eles apontaram que o número total de anotações nunca excede 13, que é o número de meses lunares em um ano. Eles sugerem, portanto, que essas sequências marcam os ciclos anuais de certas espécies de presas, com uma forma de “Y” denotando o mês em que um animal específico normalmente dá à luz.

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Imagem acima significaria que o canal de parto na vaca saltadora está aberto. Crédito: J. Vertut, coleção P. Bahn.

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No entanto, de acordo com os autores da nova abordagem, há de fato vários exemplos de sequências de linhas e pontos que excedem 13, derrubando assim todo o conceito do calendário lunar da arte rupestre. Eles alegam que esses casos foram deliberadamente excluídos da análise original para não destruir toda a ideia.

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Despejando mais ceticismo sobre a teoria, os pesquisadores do novo estudo apontam que todas as espécies presentes nessas pinturas dão à luz no primeiro ou segundo mês da primavera, e que os antigos caçadores-coletores dificilmente precisariam criar um sistema artístico ou semântico apenas para acompanhar isso.

Observando tais lacunas substanciais na teoria, os autores argumentam fortemente contra a conclusão tirada pelo estudo anterior, de que o símbolo “Y” presente em muitas pinturas rupestres funcionava como a mais antiga linguagem escrita conhecida. 

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Compilando uma longa lista de argumentos, os autores concluem que não há evidências sólidas que sugiram que essas obras de arte pré-históricas documentam calendários lunares ou sistemas de escrita arcaicos. 

Buscando possibilidades alternativas em estudos etnográficos de arte rupestre mais recente, eles sugerem que símbolos abstratos como pontos são mais propensos a representar elementos como “abelhas, sementes, estrelas, gotas de chuva, cabanas, fogos, rastros ou sangue”.