A Mozilla, empresa conhecida por seu navegador, o Firefox, está preocupada com o silêncio do WhatsApp sobre combater a desinformação durante as eleições, que já estão batendo na porta.

Serão quatro bilhões de pessoas, de 64 países, que irão às urnas nos próximos meses – a Índia já está realizando seu processo eleitoral, mas teremos ainda grandes centros, como Estados Unidos e Brasil.

publicidade

Leia mais:

Nesse âmbito, outras plataformas de redes sociais, como Meta, YouTube e TikTok, se comprometeram a proteger a integridade das eleições, ao menos, no que tange discursos e reivindicações factuais. Só que, apesar de a Meta ter se manifestado sobre Facebook e Instagram, ela não falou nada sobre seu mensageiro.

publicidade

Ao Engadget, Odanga Madung, pesquisador sênior da Mozilla focado em eleições e integridade da plataforma, questionou: “Quase 90% das intervenções de segurança prometidas pela Meta antes destas eleições estão focadas no Facebook e Instagram. Por que a Meta não se comprometeu publicamente com um roteiro público de como exatamente protegerá as eleições no [WhatsApp]?”

publicidade
Fachada de um dos escritórios da Mozilla
Imagem: Michael Vi/Shutterstock

Meta deixa WhatsApp de lado quando o assunto é integridade das eleições

  • O WhatsApp cresce cada vez mais, com mais de dois bilhões de usuários no mundo todo em 2020, e não só não supera o Facebook;
  • Mesmo assim, a Meta parece focar mais no Facebook quando se trata de medidas de segurança acerca das eleições;
  • Um estudo da Mozilla descobriu que, apesar de o Facebook ter feito 95 anúncios sobre eleições em 2016, quando a rede social foi analisada após acusações de ajudar a espalhar notícias falsas. Foram apenas 14 do WhatsApp;
  • Em comparação, Google e YouTube fizeram 25 e 27 cada, ante 34 e 21 de X e TikTok, respectivamente;
  • “Pelo que podemos dizer pelos seus anúncios públicos, os esforços eleitorais da Meta parecem priorizar esmagadoramente o Facebook”, escreveu Madung no relatório.

Agora, a Mozilla está pedindo à Meta que faça grandes mudanças no modo de operação do WhatsApp antes, durante e após os dias de votação de cada país.

Entre os pedidos, estão adição de rótulos de desinformação ao conteúdo viral (substituindo o “encaminhado com frequência” por “altamente encaminhado: verifique”), restrição de recursos dos recursos de transmissão e Comunidades que permitam às pessoas enviar mensagens para centenas de pessoas ao mesmo tempo, bem como pede aos usuários que “pausem e reflitam” antes de encaminhar qualquer publicação.

publicidade

Mais de 16 mil pessoas já assinaram o compromisso da Mozilla que pede ao WhatsApp o retardamento da desinformação política, segundo um porta-voz da empresa, em comunicação com o Engadget.

A plataforma começou a ser questionada e criticada quando dezenas de pessoas morreram, na Índia, maior mercado da empresa, após uma série de linchamentos desencadeados por uma desinformação publicada no mensageiro que se tornou viral.

Nesse caso, o rótulo “encaminhado” serviu, pelo menos sob a ótica da Meta, para conter a desinformação, imaginando que as pessoas tratassem o conteúdo encaminhado com maior ceticismo.

Alguém no Quênia, na Nigéria ou na Índia que utilize o WhatsApp pela primeira vez não vai pensar no significado do rótulo ‘encaminhado’ no contexto da desinformação. Na verdade, pode ter o efeito oposto – que algo tenha sido altamente divulgado, por isso, deve ser credível. Para muitas comunidades, a prova social é fator importante para estabelecer a credibilidade de algo.

Odanga Madung, pesquisador sênior da Mozilla focado em eleições e integridade do WhatsApp

Imagem mostrando o logo do WhatsApp em uma tela de celular
O WhatsApp é uma ferramenta amplamente utilizada tanto para lazer quanto para trabalho no mundo todo (Imagem: Meta)

Ideia não é nova

A ideia de pedir aos usuários que parem e reflitam o que vão repostar veio com o antigo Twitter (atual X), que fez esse apelo em sua plataforma. Segundo a rede social, na época, o pedido elevou em 40% o número de pessoas abrindo publicações antes de retuitá-las.

“Eles estão tentando transformar isso na próxima grande plataforma de mídia social”, disse Madung, sobre o WhatsApp. “Mas sem considerar a implementação de recursos de segurança.”

O WhatsApp é uma das únicas empresas de tecnologia que restringe intencionalmente o compartilhamento, introduzindo limites de encaminhamento e rotulando mensagens que foram encaminhadas muitas vezes. Construímos novas ferramentas para capacitar os usuários a buscar informações precisas e, ao mesmo tempo, protegê-los de contatos indesejados, que detalhamos em nosso site.

Porta-voz do WhatsApp ao Engadget

As demandas solicitadas pela Mozilla à Meta vieram após pesquisas em torno de plataformas e eleições que a empresa fez em Brasil, Índia e Libéria.

Os dois primeiros, como é possível imaginar, são dois dos maiores e principais mercados do WhatsApp, enquanto boa parte dos libérios vive em zonas rurais e com baixa penetração de internet, impossibilitando, praticamente, a checagem de informações.

Nos três países, a Mozilla detectou que partidos políticos usam fortemente o recurso de transmissão do mensageiro para “micro-direcionar” seus eleitores com propaganda e, em alguns casos, discurso de ódio.

Além disso, a criptografia de ponta-a-ponta do WhatsApp impede que os pesquisadores acompanhem o que circula no ecossistema da plataforma, aponta o Engadget. Contudo, eles já tentaram várias vezes.

Em 2022, dois professores da Universidade de Rutgers, Kiran Garimella e Simon Chandrachud, foram até a sede de partidos políticos indianos e convenceram as autoridades a adicioná-los aos 500 grupos administrados por eles.

Os dados coletados pelos pesquisadores formaram base de artigo premiado, chamado “O que circula no WhatsApp partidário na Índia?”. Apesar de as descobertas terem sido surpreendentes (eles descobriram que a desinformação e o discurso de ódio não eram a maioria do conteúdo disseminado nesses grupos), eles esclareceram que o tamanho da amostra era pequeno, além de que podem ter sidos deliberadamente excluídos justamente dos grupos que incitavam ódio e desinformação.

A criptografia é pista falsa para evitar a responsabilização na plataforma. Em contexto eleitoral, os problemas não são necessariamente puramente de conteúdo. É sobre um pequeno grupo de pessoas podendo influenciar significativamente outros grupos de pessoas com facilidade. Esses aplicativos eliminaram o atrito da transmissão de informações pela sociedade.

Odanga Madung, pesquisador sênior da Mozilla focado em eleições e integridade do WhatsApp