O nosso intestino guardava uma solução para prevenção da gripe. Pesquisa da Unicamp, em parceria com o Instituto Pasteur de Lille, da França, descobriu que a molécula conhecida como ácido indol-3-propiônico (IPA), presente no órgão, pode ajudar a combater o vírus da doença.

A pesquisa recebeu apoio da FAPESP e foi publicada na revista Gut Microbes.

publicidade

Como a molécula intestinal que combate a gripe foi encontrada

  • A equipe de pesquisa da França conduziu os primeiros testes com camundongos infectados com o vírus da gripe H3N2.
  • Eles identificaram uma redução nos níveis do ácido indol-3-propiônico (IPA) durante a infecção.
  • Posteriormente, uma tecnologia brasileira de bioinformática analisou alterações na microbiota intestinal, mudanças nos metabólitos e marcadores clínicos da doença.
  • Com base nos dados, os pesquisadores identificaram o IPA como um componente potencial contra a gripe.
  • Ao inserir uma versão sintética do IPA nos animais, em novos testes, foi observada uma diminuição na carga viral e na inflamação dos pulmões, confirmando as suspeitas dos pesquisadores.
  • Os resultados são promissores, mas ainda é necessário compreender exatamente como o IPA está combatendo o vírus da gripe.
Quantidade de vírus reduzida após tratamento com a molécula IPA – Imagem: Heumel, S. et al.

Leia mais:

O potencial da molécula

O IPA é uma molécula produzida por bactérias presentes na microbiota intestinal a partir do processamento do triptofano, um aminoácido essencial encontrado na soja, trigo, milho, peixe, carne e outros alimentos. Seu potencial não está somente no combate a gripe.

publicidade

Pesquisas indicam que tanto o triptofano quanto o IPA desempenham papéis importantes no equilíbrio energético e no sistema cardiovascular. Evidências científicas mostram o potencial dessas substâncias na prevenção de uma variedade de condições de saúde, como inflamação, obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, câncer, hipertensão e osteoporose.

Futuros testes clínicos

A equipe de pesquisa responsável pela descoberta dará início a testes clínicos com o IPA em breve. Uma patente com esse fim foi solicitada na União Europeia. Rezende Rodovalho, um dos autores do estudo, revela os planos para os novos trabalhos.

Estamos avaliando o papel do IPA durante a infecção pelo SARS-CoV-2, causador da COVID-19, e os resultados, até agora, são parecidos. Queremos testar ainda como ele atua em infecções bacterianas. Existem poucos estudos mostrando como a microbiota intestinal atua na resistência sistêmica a antibióticos e esse pode ser um caminho.

Rezende Rodovalho para a Agência FAPESP