Anvisa vai aumentar controle sob o Zolpidem, usado no tratamento de insônia

Uso do remédio aumentou consideravelmente nos últimos anos e alguns médicos já classificam a situação como um problema de saúde pública
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Lucas Soares 16/05/2024 14h08
Meditação pode ajudar a contornar insônia
Imagem: Tero Vesalainen / Shutterstock
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Médicos têm alertado para uma situação preocupante no Brasil. Nos últimos anos, tem sido cada vez mais frequente o atendimento de pacientes que ingeriram 40 ou 50 comprimidos de uma só vez de um remédio usado no tratamento contra a insônia.

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Mudanças na prescrição do remédio no Brasil

O Zolpidem está disponível no mercado há mais de 30 anos e o uso do fármaco explodiu nos últimos meses. Uma das explicações para isso é a facilidade na prescrição médica. Em um dos casos mais extremos, um paciente havia tomado 300 comprimidos em apenas um dia.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 13,6 milhões de caixas da medicação foram vendidas em 2018. Dois anos depois, em 2020, o número saltou para 23,3 milhões, um crescimento de 71% em poucos meses. Desde então, as vendas nunca ficaram abaixo da casa dos 20 milhões anuais.

Diante do cenário, alguns especialistas já classificam a situação brasileira como um problema de saúde pública. Além disso, há quem compare o quadro com a crise de opioides nos Estados Unidos.

Por isso, a Anvisa publicou uma decisão, nesta quarta-feira (15), que altera a forma como o medicamento é prescrito no Brasil. A partir de agosto, os comprimidos só serão obtidos com uma receita especial, chamada de tipo B – Azul. Até então, o Zolpidem podia ser comprado em farmácias com a receita de controle especial, que é branca e vem em duas vias.

A medida foi adotada a partir do aumento de relatos de uso irregular e abusivo relacionados ao uso do zolpidem. A análise conduzida pela Anvisa demonstrou um crescimento no consumo desta substância e a constatação do aumento nas ocorrências de eventos adversos relacionados ao uso. Foi possível ainda identificar que não há dados científicos que demonstrem que concentrações até 10 mg do medicamento mereçam um critério regulatório diferenciado.

Anvisa, em nota
Consumo excessivo do remédio já é considerado um problema de saúde pública no Brasil (Imagem: luchschenF/Shutterstock)

Zolpidem causa dependência

  • O Zolpidem chegou ao Brasil com preços elevados, mas, a partir de 2007, a patente da medicação expirou, o que causou um aumento da procura pelo fármaco.
  • Atualmente, há pelo menos 14 empresas diferentes que produzem e comercializam versões do remédio no país.
  • O medicamento é classificado como um hipnótico que induz o sono em torno de 10 a 15 minutos após a ingestão.
  • No passado, acreditava-se que esses remédios não levavam à tolerância ou à dependência.
  • Hoje, no entanto, se sabe que, com o passar do tempo, cria-se a necessidade de ingerir uma quantidade cada vez maior do fármaco para alcançar o mesmo efeito do início da terapia.
Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.