Recentemente, um homem de 47 anos foi encontrado desacordado com um pó branco ao redor da boca em um hotel nos Estados Unidos. Ele teve leucoencefalopatia tóxica, grave dano à substância branca do cérebro, responsável por enviar sinais entre os neurônios. O pó era fentanil, medicamento anestésico usado para aliviar dores intensas.

Um novo estudo publicado na BMJ Case Reports comprovou que os danos cerebrais foram provocados pelo fumo de fentanil. Este é o primeiro caso do tipo já relatado.

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Entenda mais sobre o caso:

  • Segundo a análise médica, o homem apresentava danos em duas estruturas cerebrais: o cerebelo e o globo pálido.
  • Ambas as áreas têm papel fundamental na coordenação motora. Inclusive, o globo pálido é um dos principais alvos de tratamento do Parkinson.
  • Supõe-se que o fentanil aspirado pelo nariz chegou mais rápido e em maior quantidade ao cérebro do homem, causando danos nessas áreas e levando à leucoencefalopatia tóxica.
  • Casos em que o medicamento foi ingerido também já desencadearam a condição, mas este é o primeiro em que o fentanil foi fumado.
  • Atualmente, os Estados Unidos estão enfrentando o décimo ano de epidemia ilícita de fentanil. É provável que novos casos semelhantes sejam relatados.

O que aconteceu com o homem após o trauma cerebral?

A leucoencefalopatia tóxica pode apresentar sintomas que vão de confusão leve a coma e morte. O homem passou por um tratamento hospitalar intensivo de 26 dias, seguido de um mês em uma enfermaria especializada. Após alta, precisou continuar com fisioterapia, terapia ocupacional e psicoterapia ambulatorial. Retornou ao trabalho um ano depois e sem lembranças do episódio de overdose.

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Nem todos têm um desfecho tão positivo. Em uma revisão de 51 casos de leucoencefalopatia tóxica relacionada ao abuso de substâncias, 40% dos pacientes morreram em um mês, e apenas quatro se recuperaram totalmente.

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Novos opioides sintéticos superam o fentanil

Embora o fentanil seja mais potente que a heroína e a morfina, há outros tipos de opioides sintéticos (classe de substâncias) ainda mais poderosos. Os nitazenos, por exemplo, são mais potentes. Estudos em ratos indicam que podem aliviar a dor e interromper a respiração em doses menores que o fentanil. Além deles, as chamadas brorfinas também apresentaram perigos.

Colin Davidson, professor de Neurofarmacologia, explica em artigo publicado na The Conversation que a conclusão do novo estudo indica a necessidade de maiores precauções. Segundo ele, é recomendável que os médicos incluam o fentanil em testes de triagem de toxicidade. Com o surgimento dos nitazenos e das brorfinas, também é crucial desenvolver métodos de rastreamento para identificar essas substâncias, destacou.