Uma equipe internacional de pesquisadores liderada pela astrofísica Nora L. Eisner, do Instituto Flatiron, em Nova York, publicou recentemente um estudo no periódico The Astronomical Journal relatando a descoberta de um mundo fora do Sistema Solar que é um verdadeiro enigma planetário.

Sobre o mini-Netuno recém-descoberto:

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  • Comparado a uma versão menor de Netuno, o exoplaneta TOI 4633 c orbita uma de duas estrelas semelhantes ao Sol, que também orbitam entre si, em um sistema binário;
  • Situado na “zona habitável” de sua estrela, onde as temperaturas são potencialmente amenas, o objeto apresenta um verdadeiro desafio para as ideias convencionais sobre a formação de planetas;
  • A órbita longa desse planeta em torno da estrela hospedeira, bem como a das duas estrelas uma ao redor da outra, tornam o sistema TOI 4633 incomum.

Os astrônomos costumavam pensar que o Sistema Solar, com seu Sol estável e de meia-idade, pequenos planetas rochosos em órbitas próximas e gigantes gasosos mais distantes, fosse um caso típico. No entanto, à medida que a tecnologia de caça a planetas avança, essa suposição se mostra cada vez menos precisa. 

Mini-Netuno leva 272 dias para orbitar estrela-mãe

Outros sistemas planetários podem apresentar configurações muito diferentes – e, até mesmo, estranhas. Um exemplo é o sistema TOI 4633, onde fica o misterioso “mini-Netuno” da pesquisa de Eisner. 

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Denominado TOI 4633 c, esse exoplaneta tem uma órbita de 272 dias ao redor de uma das duas estrelas que compõem o sistema. As órbitas dessas estrelas, juntamente com as dos planetas, levantam questões sobre a formação e estabilidade dos sistemas planetários.

Representação artística de um planeta mini-Netuno orbitando a estrela-mãe, que por sua vez orbita uma estrela companheira. Crédito: Art Furnace – Shutterstock

Entre os diversos exoplanetas confirmados em nossa galáxia, a maioria foi detectada pelo método de “trânsito”, que mede a diminuição da luz estelar quando um planeta passa na frente de sua estrela. E a maior parte dessas detecções envolve planetas com órbitas curtas, cujos “anos” duram apenas alguns dias ou semanas terrestres.

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A descoberta do planeta TOI 4633 c, no entanto, é notável. Sua órbita longa  o coloca entre um grupo exclusivo de apenas 175 planetas conhecidos com períodos orbitais superiores a 100 dias, e apenas 40 com mais de 250 dias. Detectado pelo TESS (sigla em inglês para Satélite de Pesquisa de Exoplanetas em Trânsito), da NASA, aquele mundo está na zona habitável, a distância ideal de sua estrela para a existência de água líquida.

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Embora seja improvável que o planeta c tenha água líquida devido à sua previsível atmosfera densa e gasosa, similar à de Netuno, a possibilidade de uma lua habitável não pode ser descartada. 

Planetas com órbitas mais longas têm maior probabilidade de hospedar satélites, tornando plausível a existência de uma “exolua” habitável. Este sistema pode se tornar um alvo importante na busca por tais exoluas.

Outra propriedade intrigante do sistema TOI 4633 é a presença de um possível planeta irmão com uma órbita de 34 dias, revelado por medições de “velocidade radial”, que detectam a oscilação na luz estelar causada pela gravidade de um planeta. Investigações adicionais serão necessárias para confirmar a existência deste segundo planeta.

Estudar esse sistema pode fornecer perspectivas valiosas sobre sistemas estelares binários. No caso deste sistema, a estrela companheira orbita a estrela principal em 230 anos, permitindo uma proximidade significativa. A órbita oval das estrelas e a presença de um planeta em trânsito com uma órbita longa tornam este sistema um excelente laboratório para testar teorias sobre a formação e estabilidade de sistemas planetários ao longo de bilhões de anos.

Os cientistas que estudaram este sistema receberam uma ajuda inestimável de 15 “cientistas cidadãos”. Esses voluntários dedicaram-se a analisar dados do TESS como parte do projeto Caçadores de Planetas TESS, que envolve cerca de 40 mil voluntários que inspecionam regularmente as “curvas de luz” em busca de trânsitos planetários. A contribuição desses cientistas cidadãos foi crucial para a descoberta do planeta TOI 4633 c.

Com a tecnologia avançada e a colaboração entre astrônomos profissionais e cientistas cidadãos, continuamos a desvendar os mistérios do cosmos, revelando novas nuances sobre a complexidade e a diversidade dos planetas além do nosso sistema solar.