Nos Estados Unidos, outra preocupação começou a surgir: ameaças potenciais fora de nosso planeta. Mas não dos alienígenas, segundo o Pentágono, mas, sim, de China e Rússia.

Isso porque a presença chinesa em órbita cresce cada vez mais e os russos têm interesse em equipamentos capazes de destruir satélites, reporta o The Wall Street Journal.

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Nessa corrida, os militares estadunidenses buscam ficar acima dessa disputa, já que, há tempos, satélites necessários para a defesa nacional e as comunicações globais sofrem com ameaças terrestres, incluindo interferências e ataques de mísseis, mas a tendência é que isso se eleve a novo nível, com a possibilidade de ataques orbitais.

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Bandeira da Força Espacial dos Estados Unidos (Imagem: Ajax9/Shutterstock)

De guerra terrestre para guerra no Espaço?

  • A inteligência dos EUA revelou, recentemente, interesse da Rússia (sua eterna inimiga nas guerras, como a Segunda Guerra e a Guerra Fria) em armas antissatélites;
  • Há, ainda, os diversos lançamentos recentes de satélites pela China;
  • Dessa forma, os estadunidenses dinamizaram seus esforços para defender seus interesses a centenas e, até, milhares de quilômetros acima da superfície da Terra;
  • Para tanto, empresas de defesa estão desenvolvendo sistemas, como satélites perseguidores de outros satélites em órbita, e estações terrestres de proteção capazes de transmitir sinais ao Espaço;
  • Outras tecnologias que estão sendo desenvolvidas por startups incluem cápsulas orbitais, sensores e estruturas de satélite, que podem ter uso militar.

Outra “estratégia” adotada pelo Pentágono é peculiar: falar mais publicamente sobre as armas que nações inimigas podem utilizar no Espaço com vistas a causar guerras.

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Em conferência do setor realizada em março, o general Chance Saltzman, principal líder operacional da Força Espacial dos EUA, afirmou que as nações adversárias tentam, diariamente, restringir o acesso dos EUA e aliados ao Espaço.

“Tenho de combater esta ameaça para garantir que as capacidades espaciais das quais dependemos para o nosso modo de vida estarão presentes no futuro”, disse, à época.

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Todavia, autoridades militares não discutem detalhes sobre os sistemas de armas dos EUA em órbita – estes são segredos governamentais muito bem-guardados.

Chance Saltzman, principal líder operacional da Força Espacial dos EUA (Imagem: Ronald Witek/Shutterstock)

Conflito iminente?

Outra medida muito adotada pelas autoridades estadunidenses ultimamente é apontar as ações da Rússia no Espaço. Por exemplo: Robert Wood, embaixador dos EUA, afirmou há pouco, nas Nações Unidas (ONU), que Moscou (Rússia), no começo deste mês, implantou satélite que, provavelmente, pode atacar na mesma órbita que um satélite do governo dos EUA.

Por sua vez, o embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, defendeu seu país, apenas afirmando que não entendia o que Wood estava dizendo. Já o Kremlin acusou a Casa Branca de tentar militarizar o Espaço, convocando relatos de que está desenvolvendo sistema nuclear antissatélite.

A Força Espacial, criada em 2019 pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump, visando preparar os EUA para questões militares no Espaço. Para tanto, ela intensificou o treinamento de seus Guardiões, o que inclui a melhor maneira de manobrar seus satélites e prever o que seus inimigos planejam.

Houve, ainda, a criação de cenários para combate a lasers, bloqueadores, agarradores e armas nucleares em órbita. O Pentágono tem tentado desenvolver, cada vez mais, seu próprio conjunto de armas e capacidades baseadas no Espaço, apesar de haver, há décadas, um tratado espacial.

Em recente pedido realizado pela Força Espacial, cerca de 25% do financiamento de US$ 29,4 bilhões (R$ 151,79 bilhões, na conversão direta), ou seja, US$ 7,35 bilhões (R$ 37,94 bilhões), iria para a chamada superioridade espacial, conceito chamado por Saltzman de “contra-Espaço responsável”.

O WSJ explica algumas das funções que as armas espaciais poderiam fazer a um ativo em órbita:

  • Satélites de guerra eletrônica podem ser usados para bloqueio de sinais enviados de e para outras plataformas orbitais;
  • Lasers ou micro-ondas de alta potência podem, literalmente, fritar os componentes eletrônicos internos de satélites;
  • Braços robóticos instalados em outros satélites poderiam capturar outros satélites ou removê-los de órbitas estáveis;
  • Armas convencionais ou nucleares poderiam ser detonadas com o intuito de destruir equipamentos eletrônicos.

Satélites chineses e armas russas em órbita poderiam causar guerra espacial (Imagem: Rodrigo Mozelli [gerado com IA]/Olhar Digital)

Formas de preparação para possível guerra no Espaço

Robert Winkler, da Kratos Defense & Security Solutions, é direto: “Precisamos agir como se fosse uma guerra no Espaço”. A Kratos é uma empresa de defesa, com sede em San Diego (EUA), conhecida por desenvolver drones-alvo e que, no momento, trabalha em sistema de treinamento para combates de guerra no Espaço.

Autoridades militares e da indústria afirmaram que se trata de processo de duas etapas.

Manter o terreno elevado, seja no topo de uma colina com vista para campo de batalha ou em órbita a milhares de quilômetros acima da Terra, é princípio que sustenta as táticas militares há milênios. Ou seja, explana o WSJ, perder os “olhos” orbitais poderia cegar as defesas antimísseis, parte vital da dissuasão nuclear há 65 anos.

A outra etapa é a transição para meios mais móveis, assim como conflitos terrestres migraram de fortes e castelos para tanques, jatos e mísseis.

Denominados “Espaço dinâmico”, eles poderiam ser manobrados de forma mais fácil em órbita, seja para ficar fora de perigo, seja para serem ameaçadores o bastante para promover a dissuasão.

Para movimentar satélites no Espaço, é preciso armazenamento de energia, com condições de reabastecer combustível, ou colocar outros serviços em órbita. Tais capacidades vêm sendo procuradas por empresas comerciais, que vêm desenvolvendo potenciais rebocadores espaciais para movimentação de satélites, além de outras com braços de agarramento e outros tipos de robótica.

A recente estratégia comercial da Força Espacial visa o aproveitamento de tecnologia e serviços de empresas privadas que reforcem suas capacidades em tempos de crise.

Na visão de Even Rogers, executivo-chefe da True Anomaly, fabricante de satélites, uma ideia bem popular foi o plano de inclusão de empresas externas em jogos de guerra para avaliar as capacidades militares dos EUA.

A empresa lançou, no começo de 2024, os satélites Jackal a partir de um foguete da SpaceX, visando testes em órbita, nos quais eles se perseguiram.

Contudo, nem todos os objetivos da operação foram cumpridos, pois eles visavam fornecer, também, informações sobre melhores maneiras de manobrar perto de outras espaçonaves. Para o próximo, alterações estão sendo realizadas.

Inteligência militar dos EUA detectou que o satélite chinês Shijian-21 (foto) moveu outro satélite do país que estava abandonado (Imagem: CASC)

Arsenal disponível para Rússia e China

Representantes do Pentágono relatam, sem rodeios, que Rússia e China são os principais concorrentes dos EUA na órbita terrestre. Afirmam que os sistemas de armas podem ficar na categoria de tecnologia de “uso duplo”, com aplicações civis e militares.

O satélite chinês Shijian-21 é descrito por seu país como responsável pela limpeza de detritos espaciais, Contudo, serviços secretos e militares estadunidenses descobriram operação realizada há mais de dois anos pelo satélite: ele moveu um satélite de navegação chinês que estava abandonado, segundo o WSJ.

Já os planos russos para ter um dispositivo nuclear espacial poderiam ameaçar a posição obtida na órbita baixa da Terra pelos EUA, tanto no setor comercial, como para ativos militares.

John Plumb, chefe de política espacial do Pentágono, que faleceu há pouco, disse uma vez que, se tal suposta arma fosse detonada, danos poderiam ser causados aos satélites já implantados e tornar as órbitas próximas à Terra inutilizáveis por um ano ou mais.

Plumb demonstrou que, apesar de estar mais “falante” quanto à guerra no Espaço, o Pentágono não se abre tanto assim, pois quando ele foi perguntado, em reunião recente da indústria, porque se falava tão pouco sobre as capacidades estadunidenses para perseguir ativos espaciais russos e chineses, ele apenas respondeu que “simplesmente não o fazemos”.