Um levantamento realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) aponta que casos extremos como os registrados no Rio Grande do Sul fazem parte de uma nova realidade brasileira. Recordes de enchentes e secas foram bem mais comuns nos últimos dez anos do que em períodos anteriores.

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Visão aérea de enchente em cidade no Rio Grande do Sul
Visão aérea de enchente em cidade no Rio Grande do Sul (Imagem: Gustavo Mansur/Palácio Piratini)

Números sem precedentes

Segundo o estudo, encomendado pela Folha de São Paulo, a quantidade de recordes de cheias sofreu um aumento expressivo. De 2014 a 2023, foram 314, contra 182 nos dez anos anteriores. Já os casos de secas contabilizaram 406 até ano passado, mais do que quatro vezes a soma da década anterior, de 92.

O Serviço Geológico do Brasil destaca que o número de estações de monitoramento dos fenômenos climáticos permaneceu estável nos últimos 50 anos no Brasil, o que garante uma comparação justa entre os períodos.

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Para os pesquisadores, o resultado é mais uma prova de que as mudanças climáticas estão provocando uma alteração nos regimes de chuvas do país, com precipitações mais intensas e períodos mais longos de estiagem.

Além de um maior número de picos de enchente e de secas, os dez últimos anos ficaram marcados por quebras consecutivas desses recordes. Os rios Taquari e Caí, no Rio Grande do Sul, por exemplo, bateram os três maiores níveis de cheia nos dois últimos anos.

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Em Uruguaiana, também no estado gaúcho, o rio Uruguai teve uma de suas seis maiores cheias neste ano. No ano passado e em 2017 o rio também alcançou dois de seus maiores índices. O RS também teve uma estiagem recorde em 2021.

A situação se repete em outras regiões do Brasil. A maior cheia do rio Amazonas foi em 2021 e seis das suas dez maiores cheias foram nos últimos dez anos. O rio teve sua pior seca em 2023.

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O rio Branco, que banha e dá nome à capital do Acre, registrou suas duas maiores cheias em 2023 e 2024. O Madeira, que em Porto Velho (RO), apresentou sua pior seca em 2023 e seis dos maiores recordes de baixa vazão nos últimos dez anos.

Segundo especialistas, este grande número de ocorrências recordes indica que os fenômenos fogem dos modelos climáticos tradicionais. Por isso, é necessário o desenvolvimento de novas equações meteorológicas.

Área do aeroporto de Porto Alegre ficou completamente alagado (Imagem: Mauricio Tonetto/Secom RS)

Tragédia climática no Rio Grande do Sul

  • De acordo com o mais recente balanço da Defesa Civil, são 172 mortes confirmadas pelas fortes chuvas e enchentes que atingem o estado gaúcho.
  • São 42 pessoas desaparecidas, mais de 380 mil desalojadas e aproximadamente 37 mil em abrigos.
  • A tragédia climática causou impactos severos em 475 dos 497 municípios gaúchos, afetando diretamente mais de dois milhões de pessoas.
  • O lago Guaíba atingiu o maior nível da história, passando dos 5 metros e 30 centímetros.
  • Um dos pontos mais críticos em Porto Alegre é o Aeroporto Internacional Salgado Filho, que anunciou a suspensão de todas as operações até o final de agosto.
  • Em 2023, uma série de desastres climáticos causou uma verdadeira devastação no Rio Grande do Sul.
  • Foram registradas 16 mortes em junho, 54 em setembro e outras 5 em novembro.