A única área verde do Nordeste pode virar deserto. O agreste, vegetação semiárida característica de alguns estados da região, está sendo engolido pelas áreas desérticas ao redor e já diminuiu em mais de 50% só no ano passado. O motivo são as secas-relâmpago que, apesar de rápidas, podem ser mortais.

Agreste pode virar deserto

O agreste é uma vegetação semi-árida que fica entre a zona da mata litorânea e as terras mais áridas do Nordeste, como a Caatinga e o sertão. Ele inclui 11 estados brasileiros, mas está diminuindo.

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As informações estão presentes em um estudo da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), via Laboratório de Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS). Os dados mostram que 55% já foi perdido devido às secas-relâmpago, fenômeno que dura de uma semana a um mês, mas costuma ser mortal. Com isso, a região pode ir de semiárida para deserto.

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A devastação não é de hoje e vem acontecendo desde a década de 1990. Desde 1993, governo e cientistas vêm monitorando a situação do semiárido brasileiro e já observam seu encurtamento.

“O estudo analisou como as secas repentinas impactaram na biomassa e na umidade do solo, no período de fevereiro a março, no período de 2004 a 2022. Essas microssecas têm predominado em relação a outros tipos de seca – como a seca meteorológica, agrícola e hidrológica. Estão relacionadas com o atual estágio da mudança climática, que agrava os eventos climáticos extremos. O efeito combinado da redução na cobertura vegetal e do aumento das temperaturas, durante as secas, têm aumentado ainda mais a degradação e a condição de aridez na região”, disse o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Humberto Barbosa, fundador do Lapis, para a Ufal.

Municípios do agreste estão se tornando semiáridos, um sinal climático agravado pelas secas-relâmpago na região

Humberto Barbosa
caatinga
Agreste é região que liga a zona da mata nordestina ao sertão e à caatinga (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Mudanças climáticas e desmatamento estão arriscando a região brasileira

  • O climatologista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade São Paulo (USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, explicou ao Jornal da USP que o aquecimento global, consequência das mudanças climáticas, é uma das razões para o aumento da desertificação;
  • A solução é impedir que a temperatura global ultrapasse a marca de 1,5 °C a níveis pré-industriais, compromisso assumido também por outros países;
  • Outro motivo para o encurtamento do agreste é o desmatamento, que leva às pastagens degradadas e à desertificação. Em contrapartida, o reflorestamento da região degradada é solução;
  • Nobre ainda destaca para a necessidade de preservar os biomas, que têm biodiversidade-chave no potencial econômico e social da região.