Documentário do Globoplay troca dubladores por IA e gera revolta nas redes sociais

"Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447" conta a história de um dos maiores acidentes aéreos da história; episódio completou 15 anos em 2024.
Por Bob Furuya, editado por Bruno Capozzi 04/06/2024 18h54
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Imagem: Diego Thomazini/Shutterstock
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Dia 31 de maio de 2009. Um Airbus A330 da AirFrance decola do Aeroporto Tom Jobim, o Galeão, no Rio de Janeiro, com direção a Paris. Cerca de 3 horas e meia depois, ele desaparece dos radares. Ao todo, 228 pessoas estavam a bordo da aeronave que caiu no Oceano Atlântico. Ninguém sobreviveu.

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Um dos maiores acidentes aéreos da história completou 15 anos agora em 2024. E o Globoplay acaba de lançar um documentário de 4 episódios sobre o caso.

Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447 imediatamente virou um dos assuntos mais comentados das redes sociais. Não pelo conteúdo em si, mas sim pela decisão da Globo de substituir dubladores profissionais pela Inteligência Artificial.

Você já leu sobre esse assunto aqui no Olhar Digital. Alguns especialistas afirmam que esse pode ser o futuro do negócio. Hoje, porém, a maioria das pessoas parece preferir ainda os dubladores humanos – e defendem a valorização da profissão deles.

Autoridades encontraram destroços da aeronave dias depois no Oceano Atlântico – Imagem: Reprodução/Globoplay

Veja como ficou

  • Vale dizer que a Globo foi muito transparente e deixou a decisão clara desde o início.
  • Tanto que, no começo de todos os episódios da série, é exibido um recado que diz o seguinte:

“A versão em português das entrevistas concedidas em língua estrangeira para este documentário foi feita a partir da voz dos próprios entrevistados, como uso de Inteligência Artificial, respeitando-se todos os direitos e leis aplicáveis. O conteúdo das dublagens é fiel às entrevistas originais. Os entrevistados que não aceitaram a dublagem foram legendados”.

  • A reação de algumas pessoas, porém, foi negativa.
  • Chamaram a decisão de “péssima”, de “vergonha” e de “mico”.
  • Como você pôde ver acima, a voz engana razoavelmente bem, mas parece meio ‘morta’.
  • Sem contar que não há uma sincronia entre a fala e a boca da entrevistada.
  • A técnica foi alvo de críticas também por parte da associação de dubladores nacionais.

Dublagem Viva

O movimento Dublagem Viva nasceu em janeiro deste ano. Ele teve inspiração em um abaixo-assinado internacional, criado pela United Voice Artists, que já reúne mais de 100 mil assinaturas.

Falamos sobre esse grupo em um texto aqui do Olhar Digital. O objetivo deles é regulamentar a IA, protegendo os próprios empregos.

O pessoal do Dublagem Viva voltou a se manifestar agora com a nova série do Globoplay.

De acordo com eles, a decisão da gigante das comunicações foi um “retrocesso” e não valoriza a riqueza da nossa Língua Portuguesa.

O texto acrescenta que cerca de 50 profissionais foram afetados, direta e indiretamente, somente nesse caso da série do Voo 447. Na sequência, o grupo questiona: “Imaginem só se todas as distribuidoras, serviços de streaming e produtoras decidirem fazer isso a partir de agora?”.

Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447 já está disponível para os assinantes no catálogo do Globoplay. O documentário possui 4 episódios.

Bob Furuya
Colaboração para o Olhar Digital

Roberto (Bob) Furuya é formado em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atua na área desde 2010. Passou pelas redações da Jovem Pan e da BandNews FM.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.