Despertar de buraco negro supermassivo é observado em tempo real

É a primeira vez que o processo de ativação de um buraco negro supermassivo é acompanhado instantaneamente
Flavia Correia18/06/2024 12h45, atualizada em 19/06/2024 21h06
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Uma equipe de astrônomos, liderada por Paula Sánchez Sáez, do Observatório Europeu do Sul (ESO), na Alemanha, flagrou uma mudança inesperada em uma galáxia distante: uma alteração de brilho que indica o despertar de um buraco negro.

A galáxia SDSS1335+0728 começou a mostrar um aumento dramático no brilho de seu núcleo em dezembro de 2019, transformando-se em um “núcleo galáctico ativo” (AGN). Esse núcleo é uma região compacta e brilhante, alimentada por um buraco negro massivo.

Eventos como explosões de supernovas ou rupturas de maré, em que uma estrela é destruída ao se aproximar de um buraco negro, podem aumentar temporariamente o brilho de uma galáxia. 

Essas variações geralmente duram poucos dias ou meses. Neste caso, no entanto, a galáxia continua aumentando seu brilho há mais de quatro anos, desde que uma “ignição” foi vista pela primeira vez. SDSS1335+0728 está localizada a 300 milhões de anos-luz de distância, na constelação de Virgem.

Primeira vez que a ativação de um buraco negro é vista instantaneamente

Para entender essas variações, os cientistas utilizaram uma combinação de dados de arquivo e novas observações de diversas instalações, como o instrumento X-shooter no Very Large Telescope (VLT) do ESO, no deserto do Atacama, no Chile. Comparando os dados obtidos antes e depois de dezembro de 2019, eles descobriram que essa galáxia está emitindo muito mais luz nos comprimentos de onda ultravioleta, óptico e infravermelho. Em fevereiro de 2024, a região também começou a emitir raios-X, um comportamento nunca antes observado, segundo Sánchez Sáez em um comunicado.

Lorena Hernández García, coautora do estudo e pesquisadora do Instituto de Astrofísica do Milênio (MAS) e da Universidade de Valparaíso, no Chile, sugere que os cientistas estão testemunhando a ativação do núcleo da galáxia. 

Representação artística mostra dois estágios na formação de um disco de gás e poeira ao redor do enorme buraco negro no centro da galáxia SDSS1335+0728. Crédito: ESO/M. Kornmesser

Se confirmado, esta seria a primeira vez que se observa a ativação de um buraco negro massivo em tempo real. Esses buracos negros, com massas que superam cem mil vezes a do Sol, estão presentes no centro da maioria das galáxias, como a Via Láctea

Leia mais:

Claudio Ricci, da Universidade Diego Portales, no Chile, explica que esses “monstros gigantes” geralmente estão inativos e invisíveis. No caso da SDSS1335+0728, foi possível observar o despertar do buraco negro, que começou a consumir o gás ao seu redor e se tornou extremamente brilhante.

Também afiliado ao Instituto Kavli de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Pequim, na China, Ricci menciona que algo semelhante pode acontecer com o buraco negro no centro da nossa galáxia, mas a probabilidade é incerta.

Mais observações são necessárias para obter outras explicações. Existe a possibilidade de estarmos presenciando um evento de ruptura de maré excepcionalmente lento ou até um novo fenômeno. Caso seja realmente uma ruptura de maré, seria o mais longo e fraco já registrado. 

“Independentemente da natureza das variações, essa galáxia oferece informações valiosas sobre o crescimento e evolução dos buracos negros”, ressalta Sánchez Sáez. Ela acredita que instrumentos como o MUSE no VLT ou o futuro Extremely Large Telescope (ELT) serão fundamentais para entender por que a galáxia está brilhando intensamente.

Por enquanto, a comunidade astronômica segue acompanhando atentamente o comportamento da galáxia SDSS1335+0728, buscando mais pistas sobre esse fenômeno intrigante. 

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.